DADOS BIOGRÁFICOS

Residente em Cachoeira, cidade referência histórica situada no Recôncavo baiano, Aidil Araújo Lima cursou Filosofia e Jornalismo. Atuou como professora e, no momento, reside na área rural do município para se dedicar inteiramente à literatura.  

Como escritora, incursiona com frequência pelos universos da crônica e do conto. Além de vários prêmios, tem escritos de sua autoria publicados em revistas e antologias, tais como Philos, Profundanças – Antologia literária e fotográfica, além da publicação alusiva ao Jubileu de Ouro de Mogi das Cruzes-SP, selecionada em certame internacional.

Seu primeiro livro, Mulheres sagradas, de 2017, apresenta uma mescla sensível e frutífera de prosa e poesia, em que a crônica do(s) acontecimento(s) surge inscrita numa linguagem marcada pelo envolvimento autoral com a matéria narrada, o que já de início capta a atenção e a empatia dos leitores para a as situações e pessoas presentes em seus textos.

Transcrevemos abaixo a Apresentação da autora ao volume Mulheressagradas:

Apresentação

Vasculhando a memória, vou extraindo enredos que tecem a trama da vida das mulheres de santo, mulheres negras, resgatando suas histórias. Revelam-se tranquilas, senhoras de saberes orais, elementos da memória e do patrimônio imaterial do Recôncavo baiano. Aprenderam a não se inquietar com a vida, elas sabem que a vida já tricotou seus destinos. São alegres. Sambadeiras. Carregam na alma a coragem de esquecer os lamentos, se embalam ao som do vento, estremecem o corpo, enquanto a alma dança, assim como seus ancestrais dançavam, mesmo arrancados a força de sua terra, do seu povo. Da sua cultura. Muita coisa mudou, mas ainda continuam pobres, em sua maioria, sem nenhuma representatividade política, social. Elas enfrentam um racismo velado cordial, dia a dia. A mesma fé que sustentou os seus ancestrais as tem sustentado até esse momento. Fé nas forças da natureza que se manifestam através dos orixás, evocados pelos atabaques, eles dançam, o povo se alegra recebendo a energia do seu Axé. Estes saberes ancestrais, do canto que invoca, das mãos que tocam a chama da vida, as folhas colhidas em árvores ancestrais, saberes prosseguidos pela oralidade através de gerações e gerações. O caminho percorrido pelas mulheres de axé, de resistência e fé, acorda emoções esquecidas, das coisas percebidas neste povo resistente, vitimados por ranços e preconceitos ainda presentes no quotidiano das pessoas de cor negra. Os textos foram surgindo bem devagar, a mente viajando através das coisas de menina, crescendo, tornando-se pensamento de gente grande, cheios de reflexões que se calam, como essas mulheres caladas diante da sua invisibilidade, dos tratamentos diferenciados. A intenção não é descrever os ritos da religião de matriz africana, o candomblé. É sim, através da beleza e poesia deste povo desconstruir conceitos equivocados, perversos; apresentar o encanto desse legado, através de imagens, histórias de vida sofrida de gente. Gente que ama, ri, sofre, espera, tem fé e continua caminhando, pés descalços em contato com a terra sagrada. Apesar dos percalços, anseiam mudança nos passos, nos passos da vida. (LIMA, 2017, p. 22-23).

A propósito de Mulheres sagradas, a escritora Rita Santana assim se manifesta no prefácio do livro:

A sua linguagem traz arranjos, construções e criações pertinentes aos falantes da língua que – distantes do engessamento formal da norma padrão – dispuseram de mecanismos de recriação da linguagem muito mais livres, mais criativos e perenes. Aidil faz uso de neologismos típicos da criatividade linguística do povo, portanto, deparamo-nos com a poesia da oralidade em sua escrita. Traz para o seu livro esse falar descontraído e – como escritora – manipula, tece suas próprias ferramentas de poeticidade, deleite, ludicidade e traquejo poético/literário com o texto que produz. (SANTANA, Rita, p. 9-10).

E prossegue:

A linguagem se torna profundamente lírica em muitos momentos, como em: “recolher da intenção de ir à reza.” Será recorrente, durante a leitura, determo-nos em algumas frases/versos que nos despertam o prazer estético, a fruição do inusitado das imagens, das construções. Uma poética oriunda da escuta e do uso de uma variedade linguística popular que foi talhada, desde nossos primórdios, no contato do negro com o território brasileiro, e que atravessa o tempo até aqui, onde estamos em permanente transformação do que um dia foi a Língua lusitana em solo brasileiro, onde indígenas e negros deram o tom inusitado ao idioma. Logo, a escritora faz uma apropriação muitíssimo particular da Língua, trazendo-nos uma sonoridade sintática que fora forjada durante esse processo de trânsitos da experiência diaspórica, e se transfigurou também em resistência, em consagração do ritmo, em rebelião da linguagem, revolta e transmutação dos códigos. (Ibid., p. 10).

Aidil Araújo Lima foi premiada no concurso internacional Jubileu de Ouro de Mogi das Cruzes-SP com o conto “Ponto de Cruz”, publicado em Antologia. Recebeu Menção Honrosa com o conto “Resistência” do Concurso Literário Cléber Onias Guimarães realizado em São Paulo. “Efêmero Gozo”, poema de sua autoria, foi selecionado e publicado na Antologia Mil poemas para Gonçalves, em homenagem a Gonçalves Dias. Recebeu também, entre outros, Menção de Louvor Especial com o conto “Inocência” no certame Poesia pede Passagem – Poesia sem Fronteiras.

No momento, Aidil Araújo Lima tem no prelo seu novo livro, Páginas rasgadas, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2020.

Referência

LIMA, Aidil Araújo. Mulheres sagradas. Cachoeira-BA: Portuário Atelier Editorial, 2017.


PUBLICAÇÕES

Obra Individual

Mulheres sagradas. Cachoeira-BA: Portuário Atelier Editorial, 2017. (Contos).

Páginas rasgadas. Salvador: Segundo Selo, 2020. (Contos).

Antologias

Revista Philos, 2ª e 3ª edições. São Paulo, 2017.

Profundanças - Antologia literária e fotográfica. Local: editora, 2017.

Jubileu de Ouro de Mogi das Cruzes-SP. Mogi das Cruzes: Jubileu de Ouro, 2015.

 Olhos de azeviche: contos e crônicas, Rio de Janeiro, Malê, 2020.


TEXTOS


CRÍTICA

Rita Santana - O oráculo de Aidil


FONTES DE CONSULTA

 

CUNHA, R. da; MARTINS, W. R. de M. O. "Mornas eram as noites" e "Mulheres Sagradas": uma travessia transatlântica entre Dina Salústio e Aidil Araújo Lima. Revista Criação & Crítica, [S. l.], n. 27, p. 72-94, 2020. DOI: 10.11606/issn.1984-1124.i27p72-94. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/view/171766. Acesso em: 23 out. 2023.

OLIVEIRA, Calila das Mercês. Movimentos e (re)mapeamentos de mulheres negras na literatura brasileira contemporânea. 2020. 220 f., il. Tese (Doutorado em Literatura) —Universidade de Brasília, Brasília, 2020. Disponível em http://repositorio2.unb.br/jspui/handle/10482/41011. Acesso em: 23 out. 2023.

SANTOS DE MATOS, E.; PEREIRA DO SACRAMENTO, S. M. Árvore sagrada: escritura de mulheres negras, interseccionalidade e resistência às estruturas canônicas. Intertexto, Uberaba, v. 13, n. 2, p. p.187 – 211, 2021. DOI: 10.18554/it.v13i2.5104. Disponível em: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/intertexto/article/view/5104. Acesso em: 23 out. 2023.

EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus subtextos. Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo, v. 1, p. 44, 2020. Disponível em: https://www.itausocial.org.br/wp-content/uploads/2021/04/Escrevivencia-A-Escrita-de-Nos-Conceicao-Evaristo.pdf#page=27. Acesso em: 23 de out. de 2023.

 

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Análise do conto Caminho de viver, de Aidil Araújo