DADOS BIOGRÁFICOS

Carmen Faustino é poeta e escritora, além de editora, educadora, gestora sócio-cultural e ativista, nascida e criada em Campo Limpo, periferia de São Paulo. Formada em Letras, é pesquisadora das culturas negras e periféricas e atuante no território da zona sul e no cenário cultural há mais de uma década. É uma das articuladoras do Núcleo Mulheres Negras – O amor cura, de vivências e cuidado coletivo entre mulheres negras da zona sul de São Paulo; e coordena o Projeto Baobá – Fortificando as raízes, de formações sobre África e Africanidades na perspectiva da Lei 10/639/2003. Integra também o coletivo Samba Sampa e o grupo artístico Massembas de Ialodês.

Seu interesse pela escrita se deu pelo contato com o Movimento Hip Hop e o apreço pelo Rap nacional nos anos 2000, mas a escrita se solidifica a partir de 2007, quando conhece os saraus e passa a ter contato com escritores e escritoras negras e periféricas.

Desenvolve oficinas literárias e projetos editoriais de valorização da presença e das narrativas de Mulheres Negras nas artes desde 2013. Publicou em diversas antologias e assina a organização de importantes obras da literatura negra como a antologia Pretextos de Mulheres Negras e a coleção Sambas Escritos.

Em seu livro de estreia solo na literatura, Estado de Libido ou poesias de prazer e cura (2020), Carmen Faustino reúne poemas que, como o título já anuncia, tratam de sexo, de prazer feminino, de orgasmos, de auto prazer, de autocuidado, e da conexão entre corpos que ocorre no ato sexual; escritos que evidenciam a mulher negra como senhora de seu corpo e de sua libido. O amor e o afeto estão presentes, enfatizando a preponderância destes sentimentos a fim de quebrar com o ciclo de embrutecimento que marca pessoas negras desde o período de escravidão, no qual os relacionamentos amorosos entre os seus eram interrompidos pelas bruscas separações que o sistema provocava.

Em paralelo, Carmen Faustino quebra com a constante hiper sexualização dos corpos negros quando o assunto é a realização do desejo e propõe um novo enfoque.  A escritora, que sempre trabalhou com a temática erótica em suas obras, inscreve a representação desse sujeito de forma respeitosa, cumprindo uma das propostas da literatura Afro-brasileira de desconstruir temáticas que foram usadas de forma racista anteriormente como uma forma de libertação e empoderamento.

A autora, que tem se dedicado ao tema nos últimos 5 anos, afirma: "A poesia erótica se tornou, para mim, um lugar também da expressão emancipadora da minha sexualidade, enquanto Mulher Negra. Quando eu consigo transpor em palavras, o prazer libertador que é se apropriar do gozo liberto e sem culpa, eu me reconstruo, me curo e reafirmo para mim e ao mundo que sexualidade plena e saudável, também me pertence."

Em sua auto apresentação no volume Pretextos de mulheres negras, a autora reflete sobre sua condição na sociedade, afirma sentir a "necessidade do grito", e se propõe a refletir sobre passado e presente, para "arejar meus conflitos e transcender em palavras". E acrescenta:

Inspirações estão nas ruas, no som da diáspora negra, nas relações e sentimentos, nas mulheres que deixam seus filhos para cuidar de famílias que não são suas. Sou espelho de muitas, minha mãe, irmãs, primas, tias e avós de uma família matriarcal, mas que a presença masculina pesa em nossas costas e ventres. Mulher negra é resistente e todas são dignas de admiração, somos a continuidade da luta pela voz e vez, vivemos o racismo e o machismo diários e mesmo invisíveis estamos aqui, renascendo, criando filhos, buscando, ressignificando lutas, amando e escrevendo.
[...]
A africanidade está nas marcas que trago no corpo e na alma, na mente inquieta e no olhar observador, de quem está aprendendo a gingar para sobreviver, ver e ser vista.                                                                                                                                     

(FAUSTINO, 2013, p. 9)

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PUBLICAÇÕES

Obra individual

Estado de Libido ou poesias de prazer e cura. São Paulo: Editora Oralituras, 2020. (poesia).

Antologias e revistas

Pretextos de mulheres negras. Organização de Carmen Faustino e Elizandra Souza. São Paulo: Coletivo Mjiba, 2013.

Feminina – Periferia um pedaço da África. São Paulo: Coletivo Guerreiras de Aqualtune, 2013.

Antologia do Sarau do Binho. Organização Sarau do Binho. São Paulo: Ciclo Continuo Editora, 2013.

Revista O Menelik 2º Ato. São Paulo, 2014.

Sujeitos, frutos e percursos – Projeto jovens facilitadores de práticas restaurativas. São Paulo: Editora CDHEP, 2015.

180 gr. Antologia do Sarau do Vinil. Organização Sarau do Vinil. São Paulo: Edição dos Autores, 2015.

Além dos quartos. Organização Coletivo Louva Deusa. São Paulo: Edição das Autoras, 2015.

Revista Fala Guerreira. São Paulo, 2015 e 2018.

Griots da Diáspora Negra. Organização Latinidades. Brasília: Edição dos Autores, 2017.

Revista Sujeitos, frutos e percursos – Projeto jovens facilitadores de práticas restaurativas. Organização CDHEP. São Paulo: Editora CDHEP, 2017.

Inovação ancestral de Mulheres Negras. São Paulo: Editora Oralituras, 2019.

Um Girassol para seus cabelos - Poemas para Marielle Franco. Belo Horizonte: Quintal edições, 2018.

Coorganização e editoração

Pretextos de mulheres negras. São Paulo: Coletivo Mjiba, 2013.

Pilar Futuro Presente – Uma antologia para Tula. São Paulo: Editora Oralituras: 2019.

Coleção Sambas Escritos. São Paulo: Editora Pólen, 2018.

Mulheres líquido – Os encontros fluentes do sagrado com as memórias do corpo terra. Carmen Faustino e Cia. Capulanas de Arte Negra. São Paulo: 2015.

Terra Fértil de Jenyffer Nascimento. Coletivo Mjiba. São Paulo: 2015.

 

TEXTOS

Carmen Faustino - Meu orgasmo é cura

Carmen Faustino - Samba em Primeira Pessoa é…

Carmen Faustino - Coroa

 

CRÍTICA

Carmen Faustino - Pretextos de mulheres negras

 

FONTES DE CONSULTA

 

LINKS

Blog

[Resenha] "Estado de Libido" de Carmen Faustino. Por Carolina Rocha

[Resenha] Estado de Libido, de Carmen Faustino. Por Viny Rodrigues

Afogar estereótipos com poesias de prazer e cura... Por Bianca Santana.

Carmen Faustino é negra, poeta, escritora, articuladora cultural, pesquisadora e ativista

Pretextos de mulheres negras – Revista Tpm

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