Lenda

 

Certa vez um negro.

O negro habitava um rancho feito de flores

Coberto de estrelas, luas e sóis...

Porem faltava luz na choupana do negro...

Depois...

Depois...

O negro ansiou por uma casa de tijolo

Caiada de branco e na cidade

Que fosse mais linda que o rancho

Coberto de flores, estrelas, luas e sóis...

Somente

Unicamente

Exclusivamente para si.

Mas que mania essa do negro!

E queria a terra

E da terra o prazer da carne

O seu prazer da vida

E na vida o prazer de satisfazer a sua imagem

A que o negro chamou de homem

O Homem fez de si próprio um altar

Para a auto-contemplação

E o amor o iluminava por inteiro

Com a sua chama tremeluzente

Enchendo-o de incertezas e de insatisfações.

O Homem que julgava o amor infinito

Viu-o caber todinho no seu coração...

 

E ficou triste para sempre.

(As gestas Líricas da negritude, 1967, p. 47)