De personagens a autoria negra no conto mineiro*

 Gustavo Tanus**

Abstract: This paper outlines to trace the course of the black in the short story: as a character, under a distanced perspective, as an author, in a compromise that modifies the way of representation. The purpose of this trajectory is to trace the first short story of the Minas Gerais on the black and the first as afro-brazilian literature, seeking to observe the modifications originating from the point of view and identification of black authorship as the subject of their own discourse and their actions. As short story characters, appeared in 1871 in the book of Bernardo Guimarães, and Nelson Coelho de Senna, at the beginning of the Brazilian Republican century. The short story of black authors had as precursor Carolina Maria de Jesus, followed by other authors. Even more, short story's authors that have written for children and youth were presented: Rogério Andrade Barbosa, Jussara Santos, Edimilson de Almeida Pereira, Patrícia Santana, Cidinha da Silva, Madu Costa, Édimo de Almeida Pereira, whose works we divide between the genres of "short story book" and "retelling". We discuss the ways of being / seeing of women writers and men writers from their histories, in search - in the literary way - of their origins, sometimes in re-configuration of their ways of seeing and being, but all starting from their own procedures of subjectivation.

Keywords: Short Story. Character. Black authorship. Representation. Representativity.

 

Resumo: Este trabalho busca traçar o percurso do negro no conto mineiro: de personagem, sob um olhar distanciado, a autora e autor, em um compromisso que modifica a representação. Objetivamos nesse tracejo perfazer o caminho pelos primeiros contos das Minas Gerais sobre o negro e os primeiros como literatura negra, buscando observar as modificações oriundas do ponto de vista e identificação da autoria negra como sujeito de seu próprio discurso e de suas ações. Como personagens de contos, apareceram em 1871 nos contos de Bernardo Guimarães, e de Nelson Coelho de Senna, no início do século republicano. Os contos mineiros de autoria negra tiveram como precursora Carolina Maria de Jesus, seguida de outros autores, como Luís Cláudio Lawa, Waldemar Euzébio Pereira, Conceição Evaristo, Jorge Dikamba. Ainda, apresentaram-se autores do conto mineiro infantil e juvenil, que são Rogério Andrade Barbosa, Jussara Santos, Edimilson de Almeida Pereira, Patrícia Santana, Cidinha da Silva, Madu Costa, Édimo de Almeida Pereira, cujas obras dividimos entre os gêneros do "livro-conto" e do "reconto". Discutimos os modos de ser/ver das escritoras e escritores a partir de suas histórias, em busca de suas origens, ora em reconfiguração de suas maneiras de ver e de ser, porém todas partindo de seus próprios procedimentos de subjetivação.

Palavras-chave: Conto mineiro. Personagem. Autoria negra. Representação. Representatividade.

 

Introdução

Toda formação de uma série literária, para uma análise e sistematização de um conjunto, demanda a busca de elementos comuns aos textos, aqueles que possam garantir uma coesão a esse conjunto, que é conseguida às vezes por generalizações, outras, por fabulações. Alertados disso, ou orientados por essas afirmações, estudar o conto mineiro nos interpõe ao menos dois primeiros embaraços: qual é nosso horizonte de interpretação desse gênero textual repleto de dificuldades de classificação, e como fugir das essencializações, parte das idealizações sobre uma experiência de “mineiridade”, esse elemento identitário que objetiva a unidade, a coesão, a metáfora “muitos como um”, (BHABHA, 1998, p. 219) que sói apagar as marcas das alteridades na cultura.

Algumas “essências” desse ser ideal, dessa tradição inventada, partiram tanto da cabeça de alguns críticos em leitura dos textos, quanto da pena de alguns autores, que agregam adjetivos que, não aprofundando sobre o habitante das Minas Gerais, ao menos e melhor (re)criaram-nos eles próprios. Esse projeto crítico, acreditamos, adentra um ciclo que, a cada imagem dessa tradição, gestada e cultuada à exaustão, afunda-se na impossibilidade de realização de outras leituras, outros modos de ver, que possibilitariam provavelmente outros modos de ser, considerando a diversidade, e respeitando a alteridade, do corpo textual, e físico.

Sabemos que a análise da literatura brasileira em busca da presença do negro pode ser realizada de diversas maneiras. Partimos da inexistência, a invisibilidade nos textos literários, estes produzidos em uma sociedade criada por meio da exploração profunda do escravizado por quase quatro séculos de instituição escravista legal, e que os desconsiderou como formadores da ideia de pátria, da realização da nação, como cidadãos, e melhor dito, como seres humanos. E chegamos à materialização dos sujeitos negros como personagens, e como autores. Entretanto, seja participando dos textos literários em que foram tratados como objetos, (PROENÇA FILHO, 2004, p. 193) como “peças”, braços para o trabalho, e sexualidade para ser explorada e devassada por “respeitáveis senhores” e “digníssimas senhoras”, (DUARTE, 2009, p. 63) seja representado como sujeito, (PROENÇA FILHO, 2004, p. 193) de todo modo, quase nenhum texto conseguiu escapar de uma representação que não compartilhasse, de modo consciente ou não, dos estereótipos e preconceitos que são partes, ainda hoje, da agenda do racismo, esse “valor” estrutural e estruturante da sociedade brasileira.

A participação do negro como autor da literatura afro-brasileira se deu nas últimas décadas do século XVIII, com a poesia de Domingos Caldas Barbosa, e, como autora, em meados do século XIX, com o romance da maranhense Maria Firmina dos Reis.1 No conto, Francisco de Paula Brito, escritor, precursor na edição, editor de Machado de Assis, é o precursor desse gênero na literatura brasileira, tendo publicado em 1839. Em Minas Gerais, o primeiro contista foi, ironicamente e a contrassenso desse “estado de grandes homens”, a escritora nascida em Sacramento, Carolina Maria de Jesus, que compôs seus contos em meados do século XX.

 

Personagens: o negro narrado

A primeira aparição do negro como personagem no conto mineiro se deu no texto “Uma história de Quilombos”, que é o primeiro conto do livro Lendas e romances, de Bernardo Guimarães, publicado em 1871. A temática central desse conto é o triângulo amoroso, tema muito explorado pela literatura em fins do século XIX, em que dois personagens, Mateus, um escravizado que foge para o Quilombo de Zambi (por vezes anotado Zumbi), certo “de achar agasalho e vida regalada nos covis de seus parceiros quilombolas”, (GUIMARÃES, 2006, p. 10) e o “senhor” Anselmo, figura do “respeitável” negro embranquecido, disputam o amor da “mulata” Florinda.

O conto possui um narrador, preciosista com os detalhes, que apresenta os personagens por breves elementos descritivos − característica marcante da literatura naquele momento, descrição morfológica que acreditavam poder revelar o “espírito” e contribuir com a imaginação do leitor, mas, por fim, urge atentar para os modos de preconceituar e validar as imagens pré-concebidas. Destaca-se a apresentação de Anselmo, mulato embranquecido cujos trajes, que revelam “asseio e esmero”, contrastam com a afirmação de que pela “aspereza de seus cabelos negros e crespos, se conhecia claramente que tinha nas veias sangue africano”. (GUIMARÃES, 2006, p. 15).

Ainda sobre esses contrastes, diremos que o triângulo amoroso é composto pelos vértices: negro quilombola raivoso por ter perdido a futura companheira, prometida a ele pelo senhor; (GUIMARÃES, 2006, p. 5-7) a obstinação do mulato bem vestido recém-chegado para ser benfeitor; e uma moça seduzida pela segurança e liberdade deste quase-branco. A interpretação desses vértices pode, ainda, partir: do negro que se tornaria quilombola, em busca de uma vida sem “surra todo santo dia” (GUIMARÃES, 2006, p. 5-6), do mulato “bem-disposto, de fisionomia agradável” cuja negritude pode ser mascarada por trajes e “por arreios de sua cavalgadura” (GUIMARÃES, 2006, p. 15), “felicidade” cotidiana de manter seu corpo; e da moça, objeto de desejo e disputa dos dois personagens.

Se tal conto inovou, até então, por iniciar-se com o diálogo de escravizados quilombolas, ou por se afastar um pouco da representação mais comum do negro na literatura nacional, cujos textos, em geral, não o viam como seres complexos, dotados de consciência e desejo, mas como animais constituídos de instinto, por outro lado, esse conto não se desvencilha de algumas imagens que alimentam o imaginário negativo sobre os negros, tratados como perigosos, raivosos, vingativos etc., nesses “documentos de negatividades”,2 que circulam no imaginário social brasileiro. Anotamos que esse conto foi um dos primeiros textos a colocar a religiosidade afro-brasileira como prática dentro do enredo: a “mandinga”, como processo de ingresso no quilombo – “flagelo dos tropeiros e caminhantes, e terror dos fazendeiros” − (GUIMARÃES, 2006, p. 10), procedimento ritualístico realizado com “objetos de feitiçaria africana” e juramento feito por “horríveis palavras cabalísticas em língua africana”, (GUIMARÃES, 2006, p. 14) e sobre o “feitiço”, uma “mandinga de trazer o amor de volta” (GUIMARÃES, 2006, p. 9).

“Pedro Cabinda” é o conto de Pelayo Serrano, pseudônimo de Nelson Coelho de Senna, que integra o volume Contos sertanejos, publicado em 1902. O conto narra uma história que se ambienta nos tempos do “infamante azorrague dos senhores de escravos”, (SERRANO, 1902, p. 41) vistos e vividos pelo narrador em sua infância. Sobre as estratégias da memória dos sertanejos, o narrador diz que a história daquela festa de casamento “tinha que perdurar por muitas gerações de roceiros, sempre recontada, com esses aumentos ingênuos a quase instintivos do nosso povo sertanejo, propenso, por índole, a narrar com lustre e saudade as cousas do passado” (SERRANO, 1902, p. 47).

O enredo trata do trânsito de Pedro Cabinda, escravizado que tivera que buscar uma encomenda, na cidade do Tejuco, objetos preparados ali, que eram parte dos preparativos das núpcias da filha do dono da fazenda de Santo Idelfonso, onde ele trabalhava. Pedro carregava um pesado baú que continha o enxoval para o casamento. Em seu íntimo, cogitava a possibilidade de atrasar. De fato, encontrou obstáculos dificultosos em seu caminho: a travessia de um rio de “águas turvas e velozes”. Ali, teria que atravessar o rio Guanhães, que estava veloz e em alta, e deveria cruzar o atoleiro da várzea baixa do rio.

No dia das bodas, como Pedro Cabinda ainda não havia chegado, o dono da fazenda arranjou um grupo de captura de Pedro, “vivo ou morto”. Tal grupo era encabeçado pelo capitão do mato chamado Felisberto, aquele que castigava o sujeito que tivesse o “mau sestro de abandonar a senzala infecta da fazenda pelo refugio ameno da vida à solta”. (SERRANO, 1902, p. 42). Este chefe de milícia captura o protagonista, que estava cansado de “ingratíssima jornada”, quando ele estava perto do arraial, certo de cumprir sua jornada. Amarra-o, e o conduz “na mais hedionda e selvagem das cruezas”, (SERRANO, 1902, p. 51) até a fazenda. Ali, a festa do casamento se dava e:

grupos da escravraria [...] casquiavam os pandeiros, os adufes e tambores de caxambú, e em outras rodas de camaradas e tabaréos vindos à função ouvia-se o ponteado meigo das violas e machetas, anunciando o começo do batuque e ‘dança de quatro’, de par com o samba enguiçado dos negros. (SERRANO, 1902, p. 49).

Por fim, o narrador diz que, o “bruaá” dos festejos populares contrastava com os berros da tortura perpetrada pelo capitão do mato: “No recinto lôbrego e infecto do tronco, tinha mais uma vez esguichado o sangue inocente de um futuro remido de [18]88” (SERRANO, 1902, p. 52). Vemos que o conto não faz grandes modificações em relação à profundidade das personagens, que são planas. Porém, em seu favor, há uma identificação com o negro escravizado, caracterizado como leal, corajoso, destemido, que parte para a aventura contra a natureza, em busca do cumprimento de uma ordem que lhe fora dada. Demonstra, no desfecho, como resultado dos arroubos e dos temores de uma classe dominante cruel e seus sistemas de torturas e castigos, a violência gratuita que contrasta com a felicidade do casamento.

 

A autoria negra nos contos das Minas Gerais

Sobre a autoria negra, já adiantamos que a primeira contista negra mineira foi Carolina Maria de Jesus, que escreveu seus contos juntamente com seus famosos cadernos em meados do século XX. Estes contos, porém, só foram publicados bem depois, “O Sócrates Africano”, em 1976, e dois outros, “Onde estaes felicidade?” e “Favela”, publicados bem recentemente, no ano de 2014. O primeiro conto trata da história de vida do avô da autora, um homem que tinha compaixão, que nunca fora preso, não brigava, não bebia, e era um homem muito inteligente, reconhecido por todos, brancos e negros, alfabetizados ou não.

A narradora conta que ele, por sua inteligência, era chamado de Sócrates. Ela odiava José Afonso, “presidente de Sacramento”, por dizer isso, porém ela não poderia xingá-lo, porque aqueles que “xingavam o presidente de Sacramento iam presos, e apanhavam.” Tal consideração, verossímil, é, como um efeito da violência institucional dessa classe dirigente brasileira, um demonstrativo de como as ditas “autoridades” agem, a despeito das leis. E a narradora continuava: “Pensava: se o vovô fosse branco e rico o senhor José Afonso havia de considerá-lo. Mas o vovô era preto e o preto não é o dono do mundo” (JESUS, 1976, p. 6).

Por fim, ela, que buscava o significado de ser o tal “Sócrates Africano”, deslindando todas as qualidades em sua postura aberta para discussão, na manutenção de uma “assembleia onde [...] discutiam as falhas do nosso povo” (JESUS, 1976, p. 6), entretanto, aquilo que era sua melhor sabedoria era sua condição de mais velho responsável pela sobrevivência − material, e, sobretudo moral − da família da narradora.

O conto “Onde estaes felicidade?” que dá título ao livro, de Carolina Maria de Jesus, editado em 2014, possui uma narrativa é bem pensada e executada, e comporta duas estruturas, uma mais superficial, que é a história de um casal sem posses cuja esposa, Felicidade, enamorou-se de um caixeiro viajante que a seduzira com bens materiais; e outra, profunda, percebida enquanto avançamos na leitura. A fim de enganar o esposo, o caixeiro viajante, pede a Felicidade que aja de modo a parecer que havia ficado louca. No momento em que ela encena, o caixeiro viajante aparece dizendo-se médico e que teria que levá-la ao hospício da cidade. Após muitos anos, o homem ainda apaixonado pela esposa, sentindo falta da Felicidade, sai à busca dela. Vai de hospício em hospício, a procurá-la, e escuta dos porteiros: aqui nunca vimos felicidade. Se ele era muito feliz com sua felicidade, o “senhor é mais feliz do que eu, que desde o dia em que nasci, não sei o que é felicidade”. (JESUS, 2014, p. 36).

Ainda de Carolina Maria de Jesus, o conto “Favela”, que integra esse mesmo volume Onde estaes felicidade?, possui algumas características do famoso livro de memórias Quarto de despejo, publicado em 1960. De fato, ele trata da mesma situação que este livro trabalha, porém, o conto possui um tratamento literário, com vistas à exploração da tensão e ritmo um pouco diferentes, haja vista que a intenção narrativa do conto é apresentar uma fotografia sobre a favela, sua formação e seus atores. A narrativa contém, segundo Eduardo de Assis Duarte (2017) a primeira “crítica do processo de modernização autoritária e excludente por uma de suas vítimas”, o que hoje em dia nomeamos como “racismo ambiental” urbano, que é a expulsão dos moradores pobres de suas habitações para a valorização do espaço. Enquanto “São Paulo modernizava-se” (JESUS, 2014, p. 39), a favela foi desativada por policiais. Os moradores foram buscar uma solução com o governante, que os destinou para as margens do rio Tietê, no bairro do Canindé. A narradora, que não tinha moradia própria, porque dormia nos empregos, ia ser mãe. Ela conheceria “a vida infausta das mulheres com filhos e sem lar” (JESUS, 2014, p. 41).

Após conseguir um terreno para construir um “barraco”, ela conta as agruras para efetivar a construção e para sobreviver como mulher negra. Numa ocasião em que, por conta da gravidez, sentiu tonteira, escutou o brado: “Negra nova podia e pode trabalhar, mas prefere embriagar-se”, ou em discurso direto livre: “ela sozinha deve ser alguma vagabunda. É crença generalizada que as pretas do Brasil são vagabundas”. Importante é a autoafirmação da narradora, que, para responder a essas pessoas, diz: “Eu sou poetisa. Peço respeitar-me mais um pouco” (JESUS, 2014, p. 41).

Um traço importante da narrativa sobre a favela é a denúncia da violência da “patrulha”. Lembramos o episódio em que o delegado, emitindo sua opinião pessoal preconceituosa, chamou a narradora de “Sem vergonha” (JESUS, 2014, p. 67) das violências domésticas, “a gente sempre despertava com um grito de socorro. Eram mulheres apanhando dos esposos”. (JESUS, 2014, p. 46). A denúncia realizada no conto pela narradora supera a matéria denunciada, porque revela e delineia a diferença de tratamento da cidade oficial e letrada − administração e cidadãos que não vivem nas favelas − dado aos moradores dali.

No ano de 1986, o escritor natural de Ponte Nova, Luís Cláudio Lawa [Eustáquio José Rodrigues], lança seu primeiro livro de contos Cauterizai meu umbigo (1986) e, logo, em 1990, o Flor de sangue. O conto “Cauterizai meu umbigo”, do primeiro livro, trata de uma amizade recente entre africanos pertencentes a etnias diferentes, reunidos em um jantar na casa de um deles, o personagem Limpunda. O narrador, que é o visitante, indaga sobre um objeto, arma de guerra presa na parede, o que remete seu dono à lembrança que motiva o outro a uma narração sobre conflitos que culminariam na escravização do povo vizinho. A arma é símbolo da vitória sobre o outro, não por ser objeto de ataque, mas espólio conquistado do vencido.

O conto comporta dois planos com diferenças na formatação, o da narrativa em ação, sem recuo, e o da reflexão do narrador, com recuo. Neste, o visitante pensa:

[...] entreguei-lhe minha maça de guerra; sim!; ESTA, LIMPUNDA, QUE AGORA ME ESFREGAS À FACE COMO TUA! [...] Compreendemos quando vocês passaram a nos dar a melhor comida, a água decantada, a mais pura. Compreendemos quando o branco lhes deu miçangas e adereços. E por que estávamos no cercado. Éramos como porcos. Sim, como porcos, e como porcos tínhamos que ser engordados. Pois é, Limpunda, compreendemos: estávamos sendo vendidos. Muitos começaram a se lamentar, a bater com a cabeça na paliçada; as mulheres a escavar o chão, procurando enfiar a cabeça, se sufocarem e aos filhos pequenos. Olhei-te nos olhos. O tempo todo olhei-te nos olhos. Bamongo, hein? Eu voltarei, bamongo! (LAWA, 1990, p. 96).

Num primeiro momento, o narrador imagina ser imprescindível recuperar tal objeto, por seu significado, como motivação para a memória. Porém, reavalia-o como um troféu de valor, dado que o importante, naquela situação, foi que ele conseguira sobreviver em terras estrangeiras e regressou à África. Esta não é, no conto, tratada como uma terra mítica, uma espécie de paraíso perdido. Esse local − de onde o narrador provém e onde ele sofrera a violência do aprisionamento para ser trocado por uma garrafa de bebida, dada como paga ao bamongo Limpunda− é, desta vez, preterido pelo narrador, que, ao comprar a arma pertencente ao povo bamongo, desiste da vindita e retoma, sem esquecer da violência sofrida, sua vida.

O montes-clarense Waldemar Euzébio Pereira, que havia publicado o conto “Foi mesmo alegria de festa” nos Cadernos negros, volume 21, em 2001, lançou, em 2004, seu primeiro livro, Achados, que reúne 17 contos. O conto intitulado “Achados” se passa na cidade de Montes Claros, onde o narrador-personagem vai crescendo e vivenciando experiências profissionais, desde a infância até a adolescência. Interessante a narração das aventuras, descobertas e travessuras da criança, em cada profissão por que passara: fora engraxate, trabalhou no mercado, foi esterqueiro, vendeu metal velho, foi carregador, alimentou porco, até que terminou a educação primária e foi aprender o ofício de ferroviário, que naquele momento tinha estabilidade. Como não receberia presente no Natal, ele passou a odiar a si e a seu pai “por ser preto” (PEREIRA, 2004, 26). E concluiu:

Ele [Papai Noel] não vinha para pobre. Nada poderia dizer ao contrário. Conhecimento vivido é fé, nada arreda. Nem ameaça de cruz. A primeira mentira pressentida revolve o estômago. Falta-nos o amparo da hipocrisia. O aprendizado sinaliza: a sensibilidade pode não ser boa companhia, mas é a nossa marca d'água. Igual frutos, amadurecemos desiguais. Primeiro, do lado exposto ao sol. A bronca subiu até Deus, por ter-me deixado nascer ali, naquela família que só sabia crescer como erva daninha (PEREIRA, 2004, 26).

Esse narrador, ao contar sobre si, sua vida de poucos recursos, revela-nos suas considerações acerca da vida lembrada, permitida pelo que chama de “achados”, que são uma mescla de fato real e construto da memória que, em intenção de recuperar o vivido, contribui para a recriação do passado.

Conceição Evaristo, autora belo-horizontina consagrada pelas poesias e romances que escreveu, publicou, em 2011, o livro de contos Insubmissas lágrimas de mulheres. Em 2014 ela publica o Olhos d'água, livro com o qual ela ganha o prêmio Jabuti. Os contos − muitos deles já editados, desde a década de 1990, nos Cadernos Negros − são narrativas construídas a partir de um ponto de vista negro feminino. No ano de 2016, foi lançado o História de leves enganos e parecenças, livro que traz contos que conjugam outras estratégias narrativas, afastando-se do real e aproximando-se de outros caminhos, “do insólito, do estranho, do imprevisível”. (SILVA, 2016, não paginado).

O primeiro livro de contos, Insubmissas lágrimas de mulheres, é composto de textos que narram histórias de vida de mulheres. Neles, são traçadas biografias de mulheres que, no fim, independente das diferentes trajetórias, em todas essas histórias se percebe uma discussão sobre o papel social da mulher, como filha, mãe, como profissional, dona de seu corpo, de sua mente.

Violências de todos os tipos são praticadas pelos homens, numa cultura machista, contra mulheres, sejam crianças ou adultas. Em algumas dessas histórias o início se dá quando a mulher ainda é uma criança, e, em outras, depois de casada, em relação à maternidade, à sexualidade, etc. Discute-se, ali, a constituição da família contemporânea ideal, marcada pela ausência do pai, e pela forte presença da mãe, que passa a se ver como mulher, sujeito de desejos, e constitui-se base psicológica e econômica da instituição familiar.

Cada uma dessas mulheres − dona de sua própria história − conta-a a uma narradora. No momento em que elas fazem isso, se constituem como sujeitos de consciência. A narradora, que as ouve com cuidado e atenção, coleta essas histórias que serão narradas, ou melhor, tecidas em uma história maior − de violência patriarcal e de luta por sobrevivência −em que todas são narradoras e protagonistas.

O conto “Memorial”, do escritor Jorge Dikamba, natural de Itabirito, foi publicado em 2014, numa coletânea de autores escolhidos em concurso nacional. É um conto que trabalha a situação de encontro da voz narrativa com um ancião, um avô, com quem o jovem narrador irá conversar. Esse mais velho inicia uma narração − repleta de imagens, de muitas qualificações e nomes inventados, a recriar poeticamente uma oralidade − sobre a infância de seu pai, escravizado, em tempos de antanho. Ele perfaz caminhos de lembrança, “voejava em seus olhinhos de criança no mundo só, voltava ao tempo longe, lá”, e começa a contar sobre um casamento da filha de um fidalgo, da localidade, nos tempos da escravidão. Entre as idas e vindas de pretendentes, ricos, até a escolha de um rapaz pobre, essa narrativa trata, por fim, de contar a origem da comunidade negra do narrador, naquela região.

 

O conto negro mineiro na literatura infantil e juvenil: o livro-conto e o reconto

Se formos considerar os contos de autoria negra desconsiderando a existência de personagens negras e negros, nossa lista ultrapassaria provavelmente umas centenas de títulos. Assim, apresentaremos apenas as escritoras e escritores negros mineiros que cultivaram esse gênero textual “conto” em histórias sobre personagens negros voltados para o público infantil e juvenil.

Vemos que alguns contos produzidos na estética das literaturas infantis e juvenis são partes integrantes de um livro, esse objeto ocidental de reunião de textos. Outros são diferentes, não em suas características mais gerais, mas em princípios de organização do texto dentro da publicação, sendo um conto que é o livro como um todo.

Para definir o livro-conto, partimos da ideia de que o conto é um arranjo sucinto e cuidadoso da prosa, cujo enredamento não se perde nos excessos e trabalha duas histórias:3 no primeiro plano, uma história com um ritmo tão lapidado que não conseguiríamos parar a leitura; no segundo, uma outra, construída em segredo. A qualidade do texto estaria no modo como são cifrados os elementos da segunda história dentro da primeira. Em relação a isso, muitos textos infantis e juvenis contemporâneos são compostos de ilustrações que não são apenas uma simples tradução entre sistemas, mas operações de transcriação entre sistemas semióticos diferentes, e frequentemente trazem outros elementos, não explorados pela narrativa verbal.

Alguns dos textos cujas personagens são negras contam histórias do continente africano. Em 1998, foi lançado o livro A tatuagem, do escritor campo-belense Rogério Andrade Barbosa, livro-conto que narra a história de Duany, uma jovem de uma comunidade do Quênia, que iniciara a marcação de seu corpo como parte de um rito social de crescimento. A jovem sai em busca de um velho tatuador conhecido, a fim de terminar de marcar o seu corpo, e ingressa em uma aventura. Ela conhece uma cobra que, como recompensa a um trabalho bem realizado, lhe dá uma tatuagem bonita, porém com a advertência de que não contasse à sua aldeia sobre a origem de tal tatuagem. No fim, os episódios vividos pela personagem simbolizam a própria marcação na pele, confirmadora de seu crescimento.

A escritora belo-horizontina Jussara Santos lançou o livro De flores artificiais, em 2002, livro de literatura juvenil que contém nove contos. A temática passa por questões da violência, do racismo e do preconceito. Em um dos contos, por exemplo, “A vez da caça”, há uma inversão da situação de caçador: um escritor que sai às ruas em busca de inspiração obtida “caçando” meninos da periferia, e um dia torna-se caça deles. Tão interessante quanto a inversão é a caracterização desse escritor/caçador que utiliza a periferia como tema. A autora publicou mais dois livros de contos: Com afagos e margaridas, em 2006; e Crespim, em 2013. O primeiro é composto por dois contos que expõem difíceis realidades − de violência e abandono − vividas por mulheres oriundas de famílias humildes. O segundo, livro dedicado aos menores, conta a história de um anjinho negro, Crespim, que possui, como sua família, descendência afro. Como uma das suas ações, ele intervém na relação amorosa dos personagens negras, Amélia e João, a fim de ajudá-los. Trata-se, então, de um livro sobre a timidez, sobre o amor, e, mais, sobre os padrões de representação do negro.

O rei do mamulengo, do escritor Rogério Andrade Barbosa, livro-conto publicado em 2003, narra a história de um menino que sonhava em se tornar mamulengueiro como seu avô, Mestre Perfumado. Vemos que os bonecos representam a sociedade: “Cabo 70”, responsável pelo manejo do “marmelório-no-lombo”, excessos de violência sem motivos, os advogados “Doutor Sabe Nada”, um padre avarento chamado “Seu Vigaro”, um boneco representando a “Alma” e outro, a “Morte”. Dentre os bonecos que o avô tinha para as apresentações havia um boneco negro chamado Benedito Cravo de Lima, que arrancava risadas da plateia, por sua alegria e “façanhas”. Destemido e folgazão, Benedito não chega a ultrapassar os limites do esperado. Em 2010, o mesmo autor publicou o livro Em Angola tem? No Brasil também!, que conta a história da amizade de duas crianças, o brasileiro Josinaldo e o angolano Matondo, que trocam cartas entre si. Nessas cartas eles trocam informações sobre a origem de elementos de suas culturas, cada qual partindo do seu lugar, do seu ponto de vista. Na busca de informações sobre elas, os dois acabam aproximando-se nas semelhanças e nas diferenças.

Do escritor juiz-forano Edimilson de Almeida Pereira, há o reconto Os comedores de palavras, história de um contador de histórias que vivia no País das árvores que falam. Para contar histórias, ele tocava seu tambor e elas nasciam vivas como serpentes em sua boca. Um dia ele foi raptado por um monstro, e seu tambor ficou adormecido. Dali, seu filho, que tanto sentia sua falta, resolveu ir atrás do pai, e percorreu terras de aventuras e passou por provações diversas. O livro Histórias trazidas por um cavalo marinho (2005), desse mesmo poeta, com ilustrações de Denise Nascimento, traz quatro pequenos contos: “O livro amarelo com páginas brancas”, “O pastor de pássaros”, “O nome do sol”, e “O menino de argila”, que tratam, de maneira geral, sobre a desnaturalização de uma realidade insólita e seus arranjos extraordinários, por meio de processos empreendidos pelas personagens, crianças negras. Em 2011, ele publicou o livro de contos Os reizinhos do Congo, ilustrado por Graça Lima, que contém duas históras, a do Rei de Congo e da Rainha-menina, contadas de forma poética e no ritmo próprio do Congado.

Patrícia Santana, natural de Belo Horizonte, é autora de três obras infantis: Entremeio sem babado (2007), Minha mãe é negra sim (2008), e Cheirinho de neném (2011). Todas as histórias se passam com personagens negras. Em seu primeiro livro, Entremeio sem babado, a autora conta a história de Kizzy, uma menina negra cujas descobertas da infância fazem parte do modo curioso como ela trata a vida. Já no segundo livro, Minha mãe é negra sim, a autora aborda mais diretamente a questão do preconceito racial, situação sofrida pelo personagem Eno, que culmina em um processo de reconhecimento de si, de construção de autoestima e posicionamento crítico frente ao racismo, auxiliado pelo avô. No terceiro livro, Cheirinho de neném, está representado o universo infantil de Iara, uma menina negra que vê seu mundo ser dividido pelo nascimento do seu irmão Abayomi. Interessantes são as estratégias da escritora de transformação literária, afastando-se dos estereótipos na representação da criança negra.

Em 2008, a escritora nascida em Belo Horizonte Cidinha da Silva lançou o livro Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor!¸ que, embora não tenha saído com a chancela “juvenil”, se faz importante, a nosso ver, para essa faixa etária, pela riqueza de suas temáticas: a afetividade, a sexualidade, o amor e o corpo. Nele, há uma mistura de textos, entre crônicas e mini-contos, com personagens mulheres, e temáticas que exploram os modos de representação, de organização do poder hegemônico. O mar de Manu, terceiro livro de Cidinha da Silva, ilustrado por Mbiya Kabengele, foi lançado em 2011, é um livro-conto cuja narrativa se passa em um dia e uma noite vividos pelo protagonista, que vive em um lugar em África, entre Mali, Níger e Burkina Fasso, que, como Minas Gerais, não possui mar.

O escritor Jorge Dikamba lançou o livro infantil Amani, em 2010, ilustrado por Juliana Buli. O livro-conto traz a história de Amani, menino africano, em sua rotina dentro da sua comunidade, até que um dia algo de terrível acontece. A narrativa trabalha o horror do momento do aprisionamento de pessoas para alimentar o “mercado de escravos”, porque Amani consegue fugir dos seus algozes e retorna à aldeia, arrasada pelo incidente. É um conto infantil inovador por apresentar o apresamento de pessoas em África, do ponto de vista do africano.

A escritora belo-horizontina Madu Costa lançou o livro-conto infantil A caixa de surpresas, em 2009, e Lápis de cor¸ em 2012. Em relação à representação e valorização étnica, ambos possuem como protagonistas personagens negros. O primeiro narra a indecisão de Victor, menino que busca o presente perfeito para sua professora. Já o segundo narra a história de Luan, menino preocupado com a preservação do planeta, cujas preocupações transformam-se, da figuração para ação, e retornam, da realidade para a imaginação, com auxílio dos lápis de cor.

O livro Nikké, do escritor juiz-forano Édimo de Almeida Pereira, em seu quinto livro para leitores em formação, lançado em 2011, é composto de dois contos, cada qual tendo a menina angolana Nikké como protagonista. Esses contos tratam da curiosidade infantil − em busca de aprendizagem − que coloca a criança frente a uma questão, que ela, em sua descomplicação inteligente, resolve. O narrador revela-nos que a primeira história foi escutada de outro contador, que a escutara da própria menina. É, portanto, um livro que trata da construção da memória, por meio da oralidade, e da formação de uma comunidade.

Percebemos que, dentro dessa ideia de livro-conto, algumas publicações são “recontos”, que são reconstruções de contos da tradição oral. (SÁ, 2014). O escritor natural de Manhumirim Júlio Emílio Braz publicou, em 2005, o livro Sikulume & outros contos africanos, que é um reconto de histórias da tradição oral africana. De Rogério Andrade Barbosa, destacamos a obra Duula, a mulher canibal, ilustrado por Graça Lima, lançado em 1999, que reconta uma história da tradição oral somali. Essa história possui dois momentos, dois modos de lutar pela sobrevivência. O primeiro: a família de pastores busca, por falta de chuva, novas terras. Na tentativa de atravessar o deserto, os pais da criança Duula morrem. Ela, que ficou sozinha e faminta, passou a comer carne de pessoas que morreram tentando atravessar o deserto. Assim desumanizou-se, tornando-se fera. O outro: a luta pela sobrevivência frente ao monstro que queria devorá-los. Os irmãos, o menino Askar e a menina Mayran, que se perdem dos pais, arrumam meios de fugir da morte. Irmãos Zulus, de Rogério Andrade Barbosa, lançado em 2006, conta uma história, aprendida com o povo Zulu, de um jovem, Malandela, que sai em busca de seus dois irmãos, que meses antes se foram em busca da fortuna. Após encontrá-los, empreendem o caminho − repleto de aventuras que testam sua capacidade de resiliência − de retorno à sua terra natal. Há, na bibliografia desse autor, mais outros tantos recontos, cuja origem é africana, como, por exemplo: Nyangara Chena, a cobra curandeira (2006), história do Zimbábue; Os gêmeos do tambor, reconto do povo Massai (2006); Uma ideia luminosa (2007), história da Eritreia, entre outros.

 

Considerações finais

Em busca de uma cartografia, não deste estado de mares de morros, veredas e sertão longínquo, mas das representações dos negros e negras nos contos mineiros, os encontramos como personagens dos contos de Bernardo Guimarães, nos fins do século XIX, dezessete anos antes do fim oficial da escravatura, e de Nelson Coelho de Senna, no início do século republicano. Embora tenha havido cuidado, nestes casos, na composição das personagens, na identificação com a personagem negra, tomada como protagonista, o “ponto de vista” (DUARTE, 2008) adotado não é o do negro.

Em relação à autoria de contos negros em Minas Gerais, descobrimos que a primeira contista foi Carolina Maria de Jesus, seguida por diversos outras escritoras e escritores negros, oriundos de diversas localidades das Minas Gerais: Sacramento, Ponte Nova, Montes Claros, Itabirito, Varginha, Campo Belo, Manhumirim, Juiz de Fora, e Belo Horizonte. Cada qual com seus modos de narrar, por meio do conto, do livro-conto infantil e/ou juvenil ou do reconto de histórias da tradição oral africana.

Avessos à tradição inventada da alma de Minas, as contistas negras e negros não tematizaram em seus contos a “mineiridade”, esse espírito gestado para agregar sob um mesmo ideal grupos sociais muito diferentes, mas que, por fim, não consegue incluí-los como sujeitos complexos e diversos. Ao percorrer as tantas páginas dos contos percebemos a naturalidade com que as personagens negras e negros, em suas diversidades, integram as histórias, sendo protagonistas delas, ora em busca de suas origens, ora em reconfiguração de suas maneiras de ver e de ser, porém todas partindo de seus próprios procedimentos de subjetivação.

 

Referências

BARBOSA, Rogério Andrade. A tatuagem. Ilustrado por Gerson Conforti. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.

BARBOSA, Rogério Andrade. Duula, a mulher canibal. Ilustrado por Graça Lima. São Paulo: DCL, 1999.

BARBOSA, Rogério Andrade. Em Angola tem? No Brasil também. São Paulo: FTD, 2010.

BARBOSA, Rogério Andrade. Irmãos Zulus. Ilustrado por Ciça Fittipaldi. São Paulo: Larousse do Brasil, 2006.

BARBOSA, Rogério Andrade. Nyangara Chena, a cobra curandeira. Ilustrado por Samo Dansa. São Paulo: Scipione, 2006.

BARBOSA, Rogério Andrade. O rei do mamulengo. Ilustrado por André Neves. São Paulo: FTD, 2003.

BARBOSA, Rogério Andrade. Os gêmeos do tambor, reconto do povo Massai. Ilustrado por Ciça Fittipaldi. São Paulo: DCL, 2006.

BARBOSA, Rogério Andrade. Uma ideia luminosa. Ilustrado por Thaís Linhares. Rio de Janeiro: Pallas, 2007.

BHABHA, Hommi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

BOSI, Alfredo (Org.). O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, [1974].

BRAZ, Júlio Emílio. Sikulume & outros contos africanos. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.

COSTA, Madu. A caixa de surpresas. Belo Horizonte: Nandyala, 2009.

COSTA, Madu. Lápis de cor. Belo Horizonte: Nandyala, 2012.

DIKAMBA, Jorge. Amani. Ilustrado por Juliana Buli. Belo Horizonte: C/Arte, 2010.

DIKAMBA, Jorge. Memorial. In: COSTA, José Mauro da (Org.). Mulheres: 29 autores escolhidos em concurso nacional. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014.

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta, vida e obra. Natal: Editora UFRN, 1995.

DUARTE, Eduardo de Assis. Carolina Maria de Jesus: informações sobre literatura afro-brasileira. 3 jul. 2017. Não publicado.

DUARTE, Eduardo de Assis. Mulheres marcadas: literatura, gênero, etnicidade. Scripta, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 63-78, 2º sem. 2009.

DUARTE, Eduardo de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira. In: LITERAFRO. O portal da Literatura Afro-brasileira. [2008]. Disponível: <http://150.164.100.248/literafro/data1/artigos/artigoeduardoassis2.pdf>. Acesso em: 3 jul. 2017.

DUARTE, Eduardo de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira. Estudos de literatura brasileira contemporânea, Brasília, n. 31, p. 11-23, 2008.

EVARISTO, Conceição. Histórias de leves enganos e parecenças. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2016.

EVARISTO, Conceição. Insubmissas lágrimas de mulheres. Belo Horizonte: Nandyala, 2011.

EVARISTO, Conceição. Olhos d'água. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2014.

GUIMARÃES, Bernardo. Lenda e romances. 4. ed. Edição preparada por Hélio de Seixas Guimarães. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2006. [1ª edição, 1871].

JESUS, Carolina Maria de. O Sócrates Africano. Revista Escrita, São Paulo, n. 11, p. 5-6, set. 1976.

JESUS, Carolina Maria de. Onde estaes felicidade? Organização de Dinha e Raffaella Fernandez. São Paulo: Me Parió Revolução, 2014.

LAWA, Luís Cláudio [Eustáquio José Rodrigues]. Cauterizai meu umbigo. Rio de Janeiro: Anima, 1986

LAWA, Luís Cláudio [Eustáquio José Rodrigues]. Flor de sangue. Belo Horizonte: Mazza Edições, 1990.

PEREIRA, Edimilson de Almeida. Histórias trazidas por um cavalo marinho. Ilustrações de Denise Nascimento. São Paulo: Paulinas, 2005.

PEREIRA, Edimilson de Almeida. Os reizinhos de Congo. Ilustrações de Graça Lima. São Paulo: Editora Paulinas, 2004. Coleção Árvore Falante.

PEREIRA, Edimilson de Almeida; ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. Os Comedores de Palavras. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2004.

PEREIRA, Edimo de Almeida. Nikké. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011.

PEREIRA, Waldemar Euzébio. Achados. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2004.

PIGLIA. Teses sobre o conto. In: _____. Formas breves. Tradução de José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

PROENÇA FILHO, Domício. A trajetória do negro na literatura brasileira. Estudos avançados, v. 18, n. 50, p. 161-193, 2004.

SÁ, Alessandra Latalisa de. Reconto. In: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG). Faculdade de Educação (FaE). Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale). Glossário Ceale: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte, 2014. Disponível em: <https://goo.gl/uk5EMf>. Acesso em: 30 jun. 2017.

SANTANA, Patrícia. Cheirinho de neném. Ilustrado por Thiago Amormino. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011.

SANTANA, Patrícia. Entremeio sem babado. Ilustrado por Marcial Ávila. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007.

SANTANA, Patrícia. Minha mãe é negra sim. Ilustrado por Hyvanildo Leite. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2008.

SANTOS, Jussara. De flores artificiais. Belo Horizonte: Sobá, 2002.

SANTOS, Jussara. Com afagos e margaridas. Belo Horizonte: Quarto Setor Editorial, 2006.

SANTOS, Jussara. Indira. Belo Horizonte: Nandyala, 2009.

SANTOS, Jussara. Crespim. Belo Horizonte: Impressões de Minas, 2013.

SERRANO, Pelayo [Nelson Coelho de Senna]. Contos Sertanejos: lendas e fragmentos. Porto: Typographia Universal, 1902.

SILVA, Assunção de Maria Sousa. A fortuna de Conceição. Prefácio. In: EVARISTO, Conceição. Histórias de leves enganos e parecenças. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2016.

SILVA, Cidinha da. Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor! Belo Horizonte: Mazza Edições, 2008.

SILVA, Cidinha da. O mar de Manu. Ilustrações de Mbiya Kabengele. São Paulo: Kuanza Produções, 2011.


Notas

[1] Sobre o negro como personagem, destacamos ainda o conto intitulado “Páginas de uma vida obscura”, da escritora potiguar Nísia Floresta, publicado em 1854, que denuncia os maus tratos dados aos escravizados. Ver: DUARTE. Nísia Floresta..., 1995.

[2] Esse termo foi criado por nós, a partir da leitura do Crítica da razão negra, de Achille Mbembe (2014), para contrapor a outros modos de arquivamento dos negros, de que tratamos na dissertação Constelações do poeta negro..., 2017.

[3] Essa ideia compõe a primeira tese sobre o conto, de Ricardo Piglia. Cf. PIGLIA. Formas breves, p. 89.

* Ensaio originalmente publicado em 2018 na revista Brasil/Brazil: A Journal of Brazilian Literature (volume 31, número 58).

** Gustavo Tanus é professor, Licenciado em Letras, Bacharel em Edição e Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela UFMG. Pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade - NEIA, desta Instituição. No momento finaliza seu Doutorado em Literatura Comparada na UFRN. É autor do volume de poemas A Hagbe que nos guarde (2019).


Texto para download