"QUE VENHA A SENHORA DONA"

NOTA DE LEITURA: Revisitação cômica da tragédia "Alceste" de Eurípides, os diálogos, de uma refinada ironia luciânica, são adaptados aos conflitos familiares burgueses contemporâneos (ou quase, a ação passa-se nos anos Jânio/Jango). O dramaturgo usa com imensa maestria os recursos da comédia de costumes, expondo as neuroses intra-familiares e os conflitos sociais e geracionais subjacentes à clássica situação-limite da famosa tragédia, subvertendo a exaltação euripidiana do amor conjugal (feminino) e da amizade (pela hospitalidade - um Hércules gaffeur que se redime), nos seus opostos cômicos do desamor conjugal (masculino e feminino) e da  "inhospitalidade" (o convite à família para jantar acaba sendo um convite para o encontro com Thánatos). Uma lição de "riso sob filosofia", como diz o professor Jacyntho (http://www.virtual.pucminas.br/comunicacao/bibl_virtual/bdm_30032007.htm), e mais uma prova da perenidade do tragediógrafo de Salamina, o humaníssimo Eurípides.