FormAÇÃO de professores: os (des)caminhos

entre a teoria, a reflexão e a prática

 

Cristiano Silva de Barros

Elzimar Goettenauer de Marins Costa

 

1. Formulação do problema e delimitação do objeto de estudo

            Um ano de atuação em três realidades diferentes na Faculdade de Letras da UFMG – aulas na graduação, supervisão dos estagiários de espanhol do CENEX (Centro de Extensão) e coordenação do projeto EDUCONLE/Educação Continuada de Professores de Língua Estrangeira – possibilitou-nos voltar a atenção para determinados aspectos relacionados à formação do professor de espanhol que merecem um estudo de suas causas e conseqüências e, ao mesmo tempo, um levantamento de ações e procedimentos que possam interferir de modo mais eficiente nessa formação, seja ela inicial ou continuada.

            Primeiramente, temos observado que os alunos de Letras/Espanhol demoram a conscientizar-se a respeito do fato de que estão cursando uma licenciatura e que, conseqüentemente, ao graduar-se estarão habilitados para dar aula de espanhol. Ou seja, não se trata de fazer um curso superior somente para aperfeiçoar o domínio de uma língua estrangeira (LE), mas sim para, além do domínio, adquirir condições de ensiná-la. Embora cursem disciplinas relativas a temas específicos de ensino-aprendizagem de língua estrangeira, não conseguem perceber a relação entre as leituras, discussões e conhecimentos e a sua futura prática ou a prática que desenvolvem, visto que alguns já ministram aula. E, mais grave ainda: não aplicam os conhecimentos à sua rotina de aprendizes, isto é, o fato de, por exemplo, ler textos sobre estratégias de aprendizagem não significa que se empenharão em tornar-se aprendizes autônomos, fator importante para a atuação profissional, uma vez que para lecionar é necessário atualizar conhecimentos e buscar novas informações constantemente. Sendo assim, as leituras feitas não são de fato processadas como suporte teórico para as experiências de ensino-aprendizagem  de LE.

            Em segundo lugar, a supervisão dos estagiários do CENEX – a maior parte deles alunos da graduação e apenas alguns da pós-graduação – deu-nos a oportunidade de observar que a prática nem sempre está fundamentada na teoria ou, mais objetivamente, nas disciplinas da licenciatura. Além disso, apesar de participarem de reuniões nas quais se discutem os planejamentos, as atividades e as avaliações, nota-se que alguns estagiários insistem numa postura tradicional, embora nem sempre consciente, completamente divorciada da orientação metodológica (nociofuncional/comunicativa) dos cursos e do material didático adotado. Essa postura manifesta-se em comportamentos individualistas, evidentes na resistência a trabalhar em equipe, e em atitudes e procedimentos pedagógicos que contrariam princípios como interação, reflexão crítica, ensino de línguas para a comunicação, etc.

            Finalmente, devido à inserção no projeto EDUCONLE, tivemos contato com profissionais que atuam na rede pública e voltam à universidade com o propósito de aperfeiçoar-se. Um dos objetivos do projeto é promover a reflexão sobre a prática pedagógica, o que demanda  revisão e amadurecimento de teorias e conceitos supostamente adquiridos na graduação. Entretanto, verificamos que, apesar de já diplomados, alguns professores apresentam dúvidas e questionamentos decorrentes de uma formação insuficiente, tanto no que se refere à metodologia quanto no que concerne ao domínio do idioma. Constata-se uma lacuna nos conhecimentos que, em relação a alguns temas, demanda um “começar a partir do zero”. Essa constatação não seria tão conflituosa se esses mesmos professores não resistissem à reflexão e se mostrassem mais abertos a de fato “começar do zero”, a refletir criticamente e a criar; contudo, o que buscam na verdade é um conjunto de respostas prontas, ou receitas, que resolvam magicamente os problemas de sala de aula. É comum ouvir desses profissionais que não podem realizar um bom trabalho porque não têm material disponível, as turmas são grandes, não contam com recursos audiovisuais, os alunos não se interessam por estudar espanhol, etc. Embora essas justificativas sejam pertinentes, muitas vezes funcionam como desculpas que mascaram razões mais complexas, relacionadas à falta de um olhar crítico sobre sua própria atuação.

            Para nós que formamos professores, essas observações levam, num primeiro momento, a uma conclusão incômoda: estamos falhando na formação, visto que: a) os alunos/estagiários não conseguem realizar uma prática reflexiva e coerente com os princípios teórico-metodológicos que norteiam os cursos de línguas; b) os professores já formados, apesar de reconhecerem deficiências na própria atuação, têm dificuldades na hora de comprometer-se com a construção de alternativas, preferindo às vezes trabalhar insatisfatoriamente com o que está pronto a investir criativamente em mudanças.

            Pode-se alegar que o conformismo e a prática intuitiva já são atitudes crônicas no ambiente educacional brasileiro e que, além disso, como alerta Almeida Filho (2005: 19):

 

A estrutura dos cursos e materiais convencionais é excessivamente rígida, arbitrária, e dela é difícil escapar. O livro didático traz o ‘prato feito’ e as tentativas de modificá-lo requerem formação profissional sólida e bastante tempo disponível para levar a efeito a sua reformulação fundamentada.

 

            Tais alegações, entretanto, podem levar-nos a indagar se nós também preferimos conformar-nos com as situações dadas, deixando-as como estão ainda que nos incomodem, ou se podemos buscar meios para modificá-las, embora em âmbito restrito. Optar pela modificação significa localizar os problemas e as suas causas e buscar as formas de intervenção; esta é a finalidade do presente projeto.

A questão com a qual nos defrontamos é uma defasagem entre princípios e ações, entre concepções de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras e sua aplicação efetiva, envolvendo dois grupos diferentes atuando em espaços também distintos: alunos/estagiários do CENEX e professores da rede pública. Por que se dá essa defasagem se tanto uns quanto outros estão cientes de que o fazer do professor deve estar fundamentado em determinados pressupostos de ordem teórico-metodológica? Por que a transposição de princípios e concepções à prática não se dá de forma natural e coerente?

 

2. Justificativa e relevância do tema

O ensino da língua espanhola no Brasil viveu uma forte expansão nos últimos anos. Um fato que comprova essa afirmação é que o espanhol adquiriu maior importância e ganhou mais força no contexto educacional brasileiro, passando a integrar o currículo de muitas escolas[1], a fazer parte das provas de vestibular em quase todas as universidades e faculdades do país[2] e, conseqüentemente, dos programas dos cursinhos preparatórios para o vestibular. Por outro lado, os institutos de idiomas, que há alguns anos atrás ofereciam somente o ensino de inglês, atualmente oferecem também o de espanhol. Esse interesse se deu por várias razões, entre elas, questões político-econômicas como a criação do MERCOSUL e outras iniciativas, tanto públicas como privadas, como a aparição de grandes empresas de origem espanhola, que aproximaram o Brasil de seus países vizinhos e da Espanha. Hoje podemos constatar que a aproximação gerou também laços sócio-culturais há muito necessários entre os países integrantes da América do Sul, possibilitando a criação de vínculos com países como Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile, dentre outros.

O estreitamento de relações e o grande impacto no ensino da língua espanhola em todos os âmbitos da educação no Brasil resultou na aprovação da Lei No 11.161, de 5 de agosto de 2005, que obriga a oferta do espanhol nos currículos do ensino médio. Essa lei é muito importante, pois significa não só a institucionalização de toda a aproximação político-cultural antes mencionada e um caminho para que essas relações se fortaleçam, como também a ampliação do mercado de trabalho no setor educacional. A conseqüência imediata de tudo isso é a aparição de uma imensa e rápida demanda de professores de espanhol, com formação e qualificação específicas para trabalhar nesta área.

Já há algum tempo vem aumentando a procura em diversas instituições de ensino superior pelos cursos de Letras que oferecem habilitação/licenciatura em língua espanhola. Exemplo disso é o alto índice de alunos interessados em matricular-se nos cursos de espanhol oferecidos pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais: a cada semestre é maior o número de alunos que tentam conseguir vagas em ditos cursos, estimulados não somente pela demanda na área educacional, mas também pelas oportunidades em setores igualmente em expansão, como o de tradutores, intérpretes, secretário/a bilíngüe, etc.

Como se discutiu antes, a formação do professor de espanhol ainda possui lacunas e vazios que devem ser preenchidos para que os profissionais possam trabalhar de forma minimamente satisfatória, com segurança e obtendo resultados produtivos. Essa questão torna-se ainda mais preocupante se pensamos que a busca pela licenciatura em espanhol deve aumentar nos próximos anos como conseqüência natural da ampliação do mercado de trabalho em função da lei aprovada recentemente. Cabe indagar: o que podemos fazer para otimizar a formação dos professores de espanhol? De quais recursos podemos lançar mão para formar na teoria e na ação?

Dado esse contexto, surge a necessidade de estudos e pesquisas que indiquem caminhos para uma formação pré-serviços e em serviço mais fundamentada e coerente que possibilite atender a demanda de profissionais competentes. Trata-se, antes de tudo, de estimular a reflexão e a construção de conhecimentos teóricos e práticos sobre ensino e aprendizagem de espanhol no contexto brasileiro e de buscar em conjunto instrumentos e ferramentas para uma atuação metodologicamente mais consistente, contribuindo assim de forma indireta para a qualidade do ensino de espanhol que, com a aprovação da lei 11.161, tende a expandir-se.

            Podemos apontar algumas questões que merecem atenção:

- Há pelo menos duas décadas já não se concebe mais o ensino de LE como mera transmissão de conhecimentos, com foco em conteúdos gramaticais e repetição de estruturas. Detecta-se “uma forte tendência para se valorizar um ensino e uma aprendizagem comunicativos de uma língua-alvo” (ALMEIDA FILHO, 2005: 78). Em vista disso cabe averiguar que impacto tem o enfoque comunicativo no comportamento do professor dentro e fora da sala de aula, isto é, no planejamento, na tomada de decisões, nos materiais e na ação – técnicas de apresentação, prática e uso da língua-alvo.

- Alguns estudos demonstram que, em contradição com as novas perspectivas citadas no item anterior, o ensino, principalmente nas escolas de ensino regular, é ainda fortemente gramatical[3]. Mesmo em cursos livres, como é o caso do CENEX, verifica-se pouca ênfase no uso da língua através de atividades significativas e mais destaque na forma. A realidade demonstra que as teorias de ensino-aprendizagem de LE produzidas nos últimos anos, apesar de estudadas em disciplinas específicas na licenciatura e amplamente difundidas em congressos, seminários e nos próprios livros didáticos, não ecoam na prática. Isso se dá devido a diversos fatores tais como: a maneira como o professor aprendeu a LE, o pouco domínio da LE, a inconsistência dos critérios para a tomada de decisões (escolha de materiais didáticos, planejamento, forma de avaliação, etc.), crenças, falta de autonomia, a incoerência entre o discurso e a prática, que precisam ser concretamente identificados.

- Mesmo quando o professor opta conscientemente pelo ensino tradicional, privilegiando o conhecimento sobre a língua e não o uso, percebe-se grande dificuldade em adotar uma postura crítica e criativa que permita produzir, modificar e ampliar atividades em lugar de simplesmente reproduzir o que está no livro didático. Neste sentido, o “prato feito” constitui-se como um entrave à formação, seja inicial ou continuada, pois desestimula a reflexão.  Além disso, faz-se necessário conscientizar o professor de que:

As implicações de uma abordagem de ensino de LE que priorize as formas ao nível de sistema de língua-alvo não se exaurem na crítica de pressupostos e materiais de ensino. Ao nível ideológico, também as experiências de linguagem que essa prática específica enseja a quem quer aprender uma língua estrangeira representa um alto custo. Em termos de conteúdos socialmente relevantes ou mesmo transformadores, ela se caracteriza como plenamente estéril. O atendimento à forma tem causado uma simplificação da linguagem que por sua vez reduz a verossimilhança com as negociações, conflitos e desencontros próprios da vida. (ALMEIDA FILHO, 2005: 19-20)

 

-          Por fim, outro aspecto pertinente se refere à dimensão cultural do ensino-aprendizagem de uma LE. Como foi visto anteriormente, um fator que contribuiu para o interesse pelo espanhol no Brasil foi o estreitamento de relações comerciais e sócio-culturais entre nosso país e os seus vizinhos, sendo assim, é fundamental formar professores sensíveis às diferenças, que não discriminem, não julguem e não condenem o “diferente”. No caso do espanhol isso é ainda mais significativo devido ao fato de ser uma língua falada em mais de vinte países, sendo grande e diversificado, portanto, o universo cultural ao qual se tem acesso aprendendo esse idioma.

 

3. Objetivos

3.1. Objetivo geral

Identificar problemas e lacunas lingüísticas e metodológicas na formação dos professores de espanhol e suas possíveis causas através da reflexão sobre a prática.

 

3.2. Objetivos específicos

a. Promover uma prática reflexiva que propicie alternativas para a solução dos problemas decorrentes de lacunas na formação.

b. Estimular a pesquisa-ação e averiguar resultados.

c. Promover interação entre teoria e prática na formação e atuação dos professores.

 

4. Metodologia

4.1. Referencial teórico

Os professores em formação inicial (estagiários do CENEX) e em formação continuada (EDUCONLE) em geral não estão sensibilizados para ver a própria prática como objeto de pesquisa e este é o caminho proposto por este projeto. Isto é, para verificarmos as dificuldades que os professores têm no desdobramento do processo de ensino-aprendizagem de LE, usaremos como instrumento a pesquisa que cada um dos envolvidos irá desenvolver tomando como referência e tendo como contexto sua sala de aula, sua turma, focalizando as etapas do processo – planejamento, ação e resultados. Esse procedimento é conhecido como pesquisa de ação.

A expressão “pesquisa de ação” foi usada pela primeira vez há quase 60 anos pelo psicólogo Kurt Levin para resolver problemas surgidos em grupos que dependiam da comunicação e da interação social positiva para alcançar suas metas. Na área de ensino-aprendizagem de LE, os professores de inglês começaram a interessar-se pela pesquisa de ação no final da década de 70 e, a partir de então, vários livros foram publicados sobre o tema (Kemmis & McTaggart, 1998; Nunan, 1991; Griffee & Nunan, 1997; Wallace, 1998).

Pode-se entender a pesquisa de ação originariamente como o esforço empreendido de modo sistemático e participativo para resolver problemas de sala de aula. Por outro lado, outros autores (Cf. Edge, 2000) preferem diminuir a relevância do elemento resolução de problema e enfatizar a reflexão do professor para compreender como seus alunos aprendem. De uma forma ou de outra, “a pesquisa de ação é um processo sistemático de indagação do professor” (HADLEY, 2004: V).

Segundo os fins deste projeto, a pesquisa de ação envolve a reflexão do professor sobre o processo de ensino-aprendizagem para identificação de problemas ou dificuldades que se relacionem com a sua formação e com a aplicação prática de seus conhecimentos. Ou seja, questões específicas decorrentes de fatores externos, que não dependem diretamente de sua intervenção como, por exemplo, turmas com muitos alunos, não serão considerados prioritariamente.

Para alcançar os objetivos propostos, a Lingüística Aplicada nos dá o suporte para a realização da pesquisa e busca dos resultados, visto que “es una disciplina científica, mediadora entre el campo de la actividad teórica y práctica, interdisciplinar y educativa, orientada a la resolución de los problemas que plantea el uso del lenguaje en el seno de una comunidad lingüística.” (SANTOS GARGALLO, 2004: 10)

Dentre as contribuições teóricas da Lingüística Aplicada nos últimos anos, interessam-nos particularmente a distinção entre aprendizagem e aquisição de LE (Corder, 1973; Krashen, 1981).

É necessário que o professor aprofunde o conhecimento dos diversos estilos de aprender e das variáveis que interferem, tanto as intrínsecas (afetivas, físicas e sócio-cognitivas) quanto as extrínsecas (material didático, recursos, métodos, tempo disponível, etc), visto que esse conhecimento pode orientar o processo de ensino. Segundo Freeman e Long (1994: 13):

 

[...] las decisiones del profesor de lenguas sobre el proceso de enseñanza deberían fundamentarse principalmente:

a) en el conocimiento de la materia que se está enseñando (la lengua y la cultura metas);

b) en el conocimiento del grupo concreto de aprendices con que se trabaja;

c) en el conocimiento del proceso de aprendizaje de la lengua.

 

As definições de método, metodologia e abordagem servem como norteadores, pois permitem localizar em que etapa ou área do processo pode ser necessária a intervenção:

 

Os conceitos de método e metodologia se opõem hoje em dia ao conceito de abordagem [...] – mais amplo e mais abstrato – indicador, na sua abrangência, de um conjunto potencial de crenças, conceitos, pressupostos e princípios que orientam e explicam (a metodologia) não só as experiências diretas com e na L-alvo (o método) em salas de aula mas também as outras dimensões do processo complexo (a operação) de ensinar uma língua, a saber, o planejamento curricular e/ou de programas específicos, os materiais de ensino, e a avaliação do próprio processo e dos seus agentes. (ALMEIDA FILHO, 2005: 63)

 

Ou seja, determinado problema detectado pelo professor pode estar relacionado, por exemplo, a uma falsa crença ou a um princípio inadequado (abordagem) e não a um material didático usado (método).

De igual importância é o aprofundamento das orientações metodológicas que surgiram a partir da década de 70 – os enfoques nocional-funcional, comunicativo e por tarefas – como reação à metodologia de corte estrutural, bem como o conceito de competência comunicativa acunhado por Hymes (1971) e reformulado por Canale (1983) que o enfoca a partir dos seguintes componentes: subcompetências gramatical, sociolingüística, discursiva e estratégica. Aprender uma língua não é simplesmente memorizar um conjunto de regras gramaticais e listas de palavras, mas sim construir um discurso apropriado a um contexto do qual fazem parte as experiências prévias, o(s) interlocutor(es) e as convenções sócio-culturais.

É necessário ter bem claro com qual orientação metodológica se está trabalhando, pois privilegiar a forma ou o uso no ensino de uma LE determina procedimentos e resultados muito diferentes. Em linhas gerais, atuar segundo uma perspectiva tradicional significa dar ênfase ao uso puro e simples de frases em enunciados artificiais, por outro lado, o enfoque comunicativo pressupõe a adoção de princípios mais amplos como o foco no processo, nas maneiras específicas de como se aprende e de como se ensina uma língua. Os enunciados são criados interativamente dentro de um discurso com significado.

 

4.2. Etapas metodológicas

Este projeto será desenvolvido com professores em formação inicial (estagiários do CENEX) e em formação continuada (EDUCONLE), cumprindo as seguintes etapas:

- sensibilização: reflexão conjunta com os professores sobre a importância de pensar no que faz – como planeja, como ensina e como aprendem seus alunos. Esse pensar deve-se dar de modo sistemático como meio de identificar dificuldades ou problemas e suas causas. O interesse sincero em desenvolver uma prática reflexiva é condição indispensável para a participação no projeto;

- seleção dos professores que participarão do projeto e elaboração do plano de trabalho da pesquisa de ação;

- leituras orientadas e discussões de textos segundo a pesquisa desenvolvida por cada professor;

- fases da pesquisa de ação[4]:

a)       Mapear o acontecido  no planejamento e na aula: o que faço como professor?

b)       Informar: Qual o significado do meu ensino? O que eu pretendia? O que de fato acontece?

c)       Refletir: Como me tornei o professor que sou? Há incongruências entre o meu dizer e o meu fazer? Como emergiu meu fazer?

d)       Questionar: Como ser diferente do que sou?

e)       Agir: Como posso atuar na prática? Como posso intervir no meu próprio fazer?

f)         Avaliar: A ação/intervenção teve o resultado esperado?

- reuniões periódicas para acompanhamento e avaliação do processo;

- elaboração de relatório individuais com descrição dos passos e resultados da pesquisa de ação.  Depois de avaliados estes relatórios deverão ser reelaborados nos padrões de um artigo para publicação.

- comparação entre os resultados obtidos (CENEX / EDUCONLE);

- avaliação dos resultados e conclusões.

- organização de um livro com os textos redigidos pelos participantes e a  conclusão final como forma de divulgação dos resultados do projeto.

            Serão utilizados os seguintes instrumentos de coleta de dados da pesquisa de ação: diários / narrativas, registros / notas.

 

5. Conclusões e Resultados esperados

            A formação do professor é um processo contínuo, inicia na licenciatura e deve seguir durante o exercício da profissão através de leituras, cursos, participação em seminários e associações, etc. Infelizmente, em função de diversos fatores, tanto os alunos, futuros professores, como os graduados investem pouco no desenvolvimento dos próprios conhecimentos: ou restringem seus estudos ao proposto pelos programas e bibliografias das disciplinas que cursam enquanto estão na graduação, ou acomodam-se à confortável condição de já “formados”. Entretanto, buscamos formar profissionais reflexivos, preparados para exercerem o ofício de ensinar LE de modo responsável e crítico e para produzirem conhecimentos a partir da própria prática. Neste sentido, a palavra formação adquire um sentido muito mais amplo. Na verdade, não é possível determinar o alcance do trabalho realizado nas disciplinas da licenciatura, isto é: até que ponto o que é abordado e discutido, o que nós, formadores, ensinamos, realmente interessa ao aluno e contribui efetivamente para o seu bom desempenho profissional? Entretanto, as contradições ou defasagens entre o que se lê e estuda (a teoria) e o que se faz é flagrante, e se manifesta em dados concretos, identificados ao princípio do presente projeto, e  tornam-se fonte real de problemas que podem, e devem, ser atacados e transformados, de modo a servir de orientação e sugestão para que se possa refletir e buscar soluções para as contradições antes referidas entre pressupostos teóricos e prática.

            Este  projeto, portanto, busca orientar e acompanhar professores no processo de pesquisar o seu fazer. Espera-se que esse processo tenha efeitos positivos na atuação profissional de cada um e no redimensionamento de nosso papel de professores e que a publicação dos resultados contribua para o ensino de espanhol de forma geral.

 

6. Referências bibliográficas

ALMEIDA FILHO, José Carlos. Lingüística Aplicada – Ensino de Línguas e Comunicação. Campinas, SP: Pontes Editores e ArteLíngua. 2005.

CANALE, M. De la competencia comunicativa a la pedagogía comunicativa del lenguaje. Em: VVAA, Competencia comunicativa. Documentos básicos de la enseñanza de lenguas extranjeras. Madrid: Edelsa, 1995.

CORDER, S. P. Introducción a la lingüística aplicada. México: Limuse, 1973/1992.

EDGE, J. (Ed,). Action research. Alexandria: Tesol, 2001.

FREEMAN, Larsen, LONG, M. Introducción al estudio de la adquisición de segundas lenguas. Madrid: Gredos, 1991/1994.

GRIFFEE, D., NUNAN, D. (Eds.). Classroom teachers and classroom research. Tokio: JALT, 1997.

HADLEY, Gregory. Pesquisa de ação em sala de aula. São Paulo: SBS, 2004.

HYMES, D. On communicative competence. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1971.

KEMMIS, S., MC TAGGART, R. The action research planner. Geelon, Australia: Deakin University Press, 1998.

KRASHEN, S. Second language acquisition and second language learning. Oxford: Pergamon Press, 1981.

MORENO FERNÁNDEZ, Francisco. El español en Brasil. Em: SEDYCIAS, João (Org.). O ensino do espanhol no Brasil. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

NUNAN, D. Language teaching methodology: a textbook for teachers. London: Prentice Hall International, 1991.

SANTOS GARGALLO, Isabel. Lingüística aplicada a la enseñanza-aprendizaje del español como lengua extranjera. Madrid: Arco/Libros, 2004.

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] A LDB promulgada em 1996 estabelece o ensino obrigatório de pelo menos uma língua estrangeira nos Ensino Fundamental (de 4ª à 5ª série) e Médio e recomenda o ensino optativo de outra LE, “dentro das possibilidades da instituição”. (Lei 9394/96, art.36, III)

[2] “En 1998 casi todas las universidades del país, federales y estatales, públicas y privadas, incluían en sus procesos de selectividad el conocimiento de español, que llegó a ser la lengua extranjera más demandada, por delante incluso del inglés en algunas universidades.” (MORENO FERNÁNDEZ,  2005: 23)

[3] Um exemplo é a pesquisa realizada pelo GERESP (Grupo de Estudo Regional de Línguas no Estado de São Paulo), concluída em outubro de 2000. (Cf. ALMEIDA FILHO, 2005: 70-1)

[4] Modelo adaptado do original apresentado por Almeida Filho (2005: 74).