OTIMIZAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DE HABILIDADES ORAIS EM ESPANHOL/LE

 

 

Elzimar Goettenauer (Universidade Estadual de Londrina)[1] [1]

 

 

            A melhor maneira de começar esta comunicação, já que vamos falar de estratégias de aprendizagem, é pedir que cada um de vocês reflita sobre as seguintes questões: como você aprende? Que critérios você utiliza para determinar o que quer ou precisa aprender? Como você estuda para desenvolver as habilidades orais em espanhol/LE? Você tem dificuldades de compreensão e produção oral em espanhol/LE? Se tem, quais são? Como você detectou essas dificuldades? O que faz para superá-las?

            Essas questões nos ajudam a dimensionar o assunto que vamos abordar. Certamente, vocês tiveram dificuldade para responder, se não todas, pelo menos algumas das perguntas, pois não estamos acostumados a pensar sobre como aprendemos. Na maior parte dos casos, quando assumimos o papel de aprendizes, nos posicionamos de forma passiva, esperando receber informações, conhecimentos ou instruções de alguém que sabe mais do que nós, ou então, lemos um livro, consultamos alguns materiais sobre determinado assunto e consideramos que a tarefa de estudar se restringe aos atos de leitura e memorização através de algumas estratégias básicas: sublinhar, repetir e tomar notas. Além disso, por diversas razões, normalmente estudamos o mínimo necessário para alcançar algum objetivo: fazer uma prova, apresentar um seminário, elaborar um texto, dar uma aula, etc.

            Infelizmente, a formação educacional que recebemos não nos prepara para dominar nosso próprio processo de aprendizagem. De modo geral, nós não somos aprendizes autônomos. Esperamos sempre que alguém nos diga o que, onde, quando e como devemos estudar. Em uma situação de ensino-aprendizagem os assuntos estudados são aqueles considerados mais importantes, significativos ou emergentes, selecionados de acordo com alguns objetivos e critérios, porém há sempre muito mais a ser pesquisado e aprendido. Precisamos não só otimizar as formas de aprofundar o que é apresentado na sala, para que não se perca no vazio do esquecimento, como também desenvolver a capacidade de estudar por conta própria. Isso não é um requisito válido somente para o aluno, mas também para o professor, pois a melhor maneira de aprender pode ser igualmente a melhor maneira de ensinar e, por outro lado, é preciso que o professor saiba identificar os estilos individuais de estudo para estimular a autonomia na aprendizagem.

            Estudar uma língua estrangeira a fim de tornar-se um falante proficiente requer um empenho talvez maior do que o dedicado a outras disciplinas, pois o que é estudado na sala de aula constitui uma parcela muito pequena daquilo que o aluno deve aprender. Por outro lado, dominar uma língua estrangeira para poder comunicar-se em diferentes situações significa desenvolver igualmente as quatro habilidades – compreensão e produção oral e escrita – entretanto, como conseguir esse domínio com quatro ou seis aulas semanais? Não é um simples acaso que no final do curso, os alunos tenham mais facilidade para ler e escrever do que para falar e compreender o que ouve.

            Assim como os professores lançam mão de diferentes estratégias e recursos para ensinar, os alunos também têm maneiras diferentes de aprender, embora nem sempre tenham consciência disso. A aprendizagem é vista normalmente como algo abstrato, que ocorre automaticamente tanto como conseqüência da habilidade que o professor tem para ministrar os conteúdos quanto da capacidade, ou facilidade, do aluno para assimila-los. Entretanto, se temos nossas preferências por determinados assuntos ou disciplinas, condicionadas por diversos fatores externos e internos e determinadas pela história pessoal de cada um, também temos estilos individuais de aprendizagem.

            Novamente, poderíamos recorrer a algumas perguntas: você gosta de ler em voz alta? Acha que ouvir música facilita a memorização do vocabulário? Quando lê um texto em espanhol, procura no dicionário todas as palavras que não conhece? Anota tudo que o professor fala? Consulta diferentes materiais quando tem de preparar um trabalho? Tem uma caderneta para anotar as palavras e expressões novas? Enfim, como cada um tem um estilo para se vestir, ou para decorar a casa, também tem um estilo para aprender.

O que queremos dizer então com “otimização das estratégias de aprendizagem”? Normalmente, quando nos arrumamos para sair, escolhemos as peças que estão de acordo com o nosso tipo físico, quando mobiliamos a casa, escolhemos os móveis que compatibilizam com o ambiente. E quando estudamos, escolhemos conscientemente as estratégias que combinam com nosso estilo de aprender? Exploramos estratégias que podem ser mais eficientes para assimilar determinado conteúdo? Melhor ainda: planejamos a aprendizagem? Otimizar, neste contexto, engloba vários passos: conhecer o próprio jeito de aprender, identificando que estratégias são mais utilizadas; relacioná-las com os conteúdos em que são empregadas; avaliar sua eficácia para a aprendizagem de tais conteúdos; detectar os motivos por que outras estratégias não são usadas; explorar outras estratégias. Somente os alunos que sabem como aprendem têm condições de planejar e conduzir seu programa de estudo.

Segundo pesquisas, alunos que conduzem sua aprendizagem em LE têm as seguintes características: encontram suas próprias vias para aprender; organizam as informações que recebem sobre a língua; são criativos e utilizam o que aprendem em novas situações; procuram ocasiões para utilizar a língua dentro e fora da aula; aplicam estratégias que lhes permitam alcançar um certo grau de compreensão da língua, ainda que não compreendam todas as palavras; utilizam sistemas mnemotécnicos (ritmo, associação de palavras, siglas, frases, rimas, etc.); analisam os erros que cometem para não repeti-los; utilizam os conhecimentos lingüísticos que já possuem sobre a língua materna e / ou outra LE; utilizam o contexto (conhecimentos do mundo, elementos extralingüísticos) para compreender melhor as mensagens orais; sabem utilizar a suposição e a imaginação na aprendizagem; conhecem diferentes estilos de expressão oral e escrita e sabem utilizá-los em diferentes situações, segundo o grau de formalidade exigido.

O aluno que deseja conduzir seu processo de aprendizagem em espanhol deve procurar primeiramente responder às seguintes questões: Por que estudo espanhol? Que aspectos do espanhol quero / preciso aprender? Que conteúdos quero aprofundar? Que tipo de exercícios preciso praticar mais? De que forma aprendo melhor? (prefiro praticar sozinho / com um colega; gosto de praticar logo depois de aprender um assunto novo / ou acho melhor refletir sobre os aspectos que acabo de conhecer; fixo melhor o que ouço / leio / vejo / repito em voz alta). De quanto tempo disponho para estudar espanhol? Tenho um lugar adequado para estudar? A partir das respostas, o aluno pode traçar seu programa de estudos.

            Infelizmente, poucos alunos desenvolvem a autonomia na aprendizagem, isso se dá ou por questão de insegurança – o aluno acredita que não tem condições de estudar sozinho e espera sempre o comando e a explicação do professor ou a ajuda de um colega –, ou porque não descobriu seu potencial e sua capacidade de estudar por conta própria, ou ainda, simplesmente, porque não sabe como fazê-lo. Por outro lado, não é possível afirmar que a autonomia pode ser ensinada, ela pode ser estimulada e orientada, contudo, o aluno só a alcança por determinação própria, pela descoberta feita por si mesmo dos procedimentos que facilitam sua aprendizagem.

            O Centro de Auto-Acesso (CAA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) é um espaço criado através de Projetos de Otimização das Estratégias de Aprendizagem desenvolvidos por professores de Língua Estrangeira do Curso de Letras. Ali, com a ajuda de monitores, são preparados diversos materiais com atividades que os alunos devem realizar sozinhos, sem a ajuda do professor. Por enquanto, os materiais estão direcionados sobretudo para as habilidades orais, com ênfase na compreensão. Como não dispomos de técnicas e aparelhos adequados para a produção de material auditivo de qualidade, utilizamos fitas e / ou CDs de músicas e de métodos de ensino de LE. Os exercícios são então preparados com base no emprego das estratégias de aprendizagem, agrupadas em três grandes categorias: metacognitivas, cognitivas e sócio-afetivas, segundo a tipologia de O’Malley y Chamot (CYR, 1998). Esses exercícios são direcionados para cinco subáreas: pronúncia, gramática, vocabulário, compreensão oral e produção oral.

            O que temos observado é que os alunos possuem uma grande resistência a estudar sozinhos. A falta de tempo e o acúmulo de atividades são normalmente as principais justificativas apresentadas, mas percebe-se que na verdade não se sentem motivados a realizar as atividades porque elas exigem mais reflexão e dedicação do que as solicitadas pelo professor. Obviamente, não se trata de graus de dificuldade diferentes dos exercícios em si, pois o objetivo não é propor tarefas de difícil execução; o problema está relacionado aos passos que o aprendiz deve dar. Geralmente, os exercícios propostos pelo professor em sala de aula são explicados, as etapas que o aluno deve vencer são previamente indicadas e, às vezes, são dados inclusive modelos ou exemplos a fim de ajudar ou facilitar o desempenho do aluno. Isso é feito pela própria dinâmica da sala de aula e pela tradição criada de que o professor comanda e explica e o aluno apenas executa. Quando o aprendiz tem dificuldade em executar a tarefa, o professor sente-se impelido a explicar quantas vezes forem necessárias, pois acredita que a dificuldade é fruto das explicações insuficientes. Em contrapartida, para o estudante é mais prático recorrer a alguém sempre que algum obstáculo impede a compreensão imediata de um enunciado.

            No CAA o usuário não tem a quem recorrer. Os monitores têm a função de atendê-los, preencher sua ficha de inscrição, mostrar os materiais disponíveis e a sua localização, orientar quanto à utilização dos aparelhos, mas não estão ali para “ensinar” as atividades ou “explicar” como devem ser realizadas. As pastas de atividades contêm uma apresentação que expõe em linhas gerais como o material está organizado e como devem ser executadas as tarefas. O aprendiz deve primeiro estabelecer que tipo de atividade quer fazer e, em seguida, elaborar seu plano de estudo. Neste ponto reside o primeiro desafio: identificar as próprias deficiências, decidir-se a superá-las e estabelecer os passos que devem ser dados para isso. Uma vez elaborado o plano de estudos, o segundo desafio é cumpri-lo. A realidade comprova que o aluno desiste, ou desanima, ante qualquer empecilho. O resultado é uma freqüência ainda reduzida ao CAA.

            Sendo assim, este ano, com o objetivo de divulgar os projetos de otimização de estratégias de aprendizagem e de conhecer melhor o perfil dos alunos de LE, planejamos realizar mini-cursos direcionados para as subáreas citadas anteriormente. Já foram realizados os de pronúncia e gramática, e o de vocabulário está em andamento.

            Esses mini-cursos são de dez horas: três encontros de uma hora e meia com o professor-orientador e cinco horas e meia de realização de atividades. No primeiro encontro, explica-se a dinâmica do mini-curso, faz-se uma breve explanação das estratégias de aprendizagem e entrega-se uma apostila. Este material contém exercícios que devem ser realizados no CAA, pois são desenvolvidos a partir da compreensão oral. No segundo encontro, os alunos relatam como executaram as tarefas – e daí depreendem-se as estratégias empregadas – e apresentam as dúvidas, caso as tenham. Cabe ao professor-orientador, chamar a atenção dos alunos para as estratégias que eles empregaram e também para aquelas que poderiam ter sido utilizadas e não foram, facultando assim uma espécie de racionalização do processo de aprendizagem. Isto é, deve-se conscientizá-los para o fato de que o processo de aprendizagem não é algo puramente automático ou inconsciente. Ao contrário, é possível distinguir as etapas da aprendizagem e os procedimentos e técnicas que podem acelerá-la ou facilitá-la. No terceiro encontro, os alunos apresentam um relatório sucinto dos passos que seguiram na execução das tarefas e realizam-se também algumas atividades de produção oral baseadas no conteúdo trabalhado.

            Os dois mini-cursos já realizados permitiram-nos fazer algumas observações, sobre as quais falaremos a seguir. Como as subáreas enfocadas são distintas, os materiais preparados e o encaminhamento dado a cada um também diferem, em vista disso, usaremos como exemplos apenas o de “Otimização das Estratégias de Aprendizagem de Gramática em Espanhol”.

Primeiramente, embora no encontro inicial se tenha falado aos aprendizes a respeito das estratégias da aprendizagem, cujo emprego são a principal meta dos eventos, e inclusive fosse pedido que lessem os capítulos de Paul Cyr sobre o assunto disponíveis no CAA, eles simplesmente ignoraram o assunto e concentraram-se na execução das tarefas, sem estabelecer metas, fazer um planejamento ou um cronograma. Talvez possa ser indagado qual a necessidade de um plano de estudos se o aluno recebe uma apostila e, em princípio, deve somente sentar-se e resolver as questões. No entanto, como se trata de conteúdos que ele deve assimilar, haveria algumas etapas a cumprir: primeiramente tentar definir o quanto sabe (ou não sabe) sobre o conteúdo – identificação de um problema; verificar a extensão e o tipo de questões propostas no material, procurando identificar o grau de dificuldade de cada uma delas e a melhor forma de resolvê-las – atenção geral e seletiva; pressupor o tempo de que necessitará para resolvê-las e decidir como estudará (tudo de uma só vez, aos poucos, saltando exercícios, ouvindo a fita toda primeiro, etc) – antecipação; estabelecer metas (o que pretende alcançar? em quanto tempo?) – auto-gestão; e, finalmente, prever uma forma de auto-avaliação e auto-monitoração (está aprendendo? o quê? como?). Pode parecer um desperdício de tempo e esforço seguir esses passos, mas não é, e se nos acostumamos a usar as estratégias metacognitivas, com a prática acabamos economizando tempo ao direcionar e monitorar a própria aprendizagem a partir de objetivos determinados.

Em relação aos exercícios propostos, os alunos mantiveram uma atitude passiva de “obediência” aos comandos, sem nenhuma postura reflexiva ou crítica. O conteúdo abordado foi o emprego dos Pretéritos Perfeito Simples e Composto, um assunto que freqüentemente apresenta dificuldade para os falantes de português, pois as normas de uso dos dois tempos nem sempre são explicadas de forma adequada, levando inclusive a uma interpretação errônea do emprego dos verbos. A proposta era a de fazer os alunos identificarem essa deficiência em algumas gramáticas e manuais didáticos, para isso deveriam consultar variadas fontes bibliográficas disponíveis no CAA. As atividades apresentavam diversas situações para observação e uso dos tempos verbais e ao mesmo tempo solicitavam as consultas. No entanto, os alunos não se detiveram nas diferenças entre as várias explicações lidas. Conclui-se que, como já haviam assimilado um tipo inadequado de definição, não contrastaram as fontes. Resultado: continuaram condicionando o uso dos pretéritos a partir da fórmula insuficiente memorizada anteriormente. Não havia na apostila nenhum exercício que levasse objetivamente o aluno a identificar a divergência entre as definições lidas, pois isso seria feito através de atividades de produção oral no segundo encontro. Esse fato talvez tenha contribuído para que não fosse alcançado o objetivo.

Uma outra observação feita é que, apesar da maior parte das atividades estar ancorada na compreensão oral, alguns dos estudantes insistiram em realizá-las em casa, recorrendo para isso à dedução (que não deixa de ser uma estratégia), perdendo assim a oportunidade de aprimorar a discriminação auditiva da LE. Na verdade, os alunos parecem dissociar as habilidades, como se cada uma fosse ativada isoladamente, ou seja, falar, ouvir, ler e escrever seriam atos independentes; assim como dissociam também a gramática da comunicação e consideram o livro uma “bíblia” – o que o autor escreve é lei e ninguém discute. Por isso, embora os exercícios propostos tivessem um suporte auditivo, entendiam que bastava ler para responder; do mesmo modo, embora houvesse várias fontes de consulta, entendiam que uma vez “aprendida” uma definição não necessitavam ir adiante, pois, se estava escrito no livro, não deveriam contestar.

Ainda sobre este ponto, arriscamo-nos a fazer algumas afirmações: primeiro, os aprendizes concebem sobretudo a compreensão oral como uma habilidade que se desenvolve separadamente das outras e de forma automática, bastaria ouvir para assimilar; associam geralmente a compreensão oral com ouvir música e assistir a filmes na LE; utilizam a compreensão oral via de regra para “aprender” vocabulário mas, mesmo neste caso, limitam-se a apenas escutar ou, quando anotam as palavras, não realizam uma atividade complementar para fixá-las; finalmente, dedicam pouco tempo ao aperfeiçoamento desta habilidade porque consideram as outras mais importantes ou porque elegem a gramática como centro da aprendizagem de LE.

Com relação às estratégias cognitivas que foram focalizadas na elaboração do material, privilegiamos aquelas que consideramos serem menos empregadas pelos alunos, ou empregadas de modo insuficiente: a utilização de referências, a tomada de notas, a elaboração, o resumo, a transferência de conhecimentos e a inferência.

A utilização de referências (fontes) não se restringe a uma simples leitura. Como já vimos, nem sempre o aprendiz tira real proveito da consulta por ter dificuldade em trabalhar com as informações coletadas e de perceber inclusive as contradições ou ambigüidades das explicações, não chegando a seguir os passos próprios da pesquisa: identificação de idéias principais e argumentos, seleção, comparação, complementação, análise e crítica.

Do mesmo modo, a tomada de notas, a elaboração e o resumo se transformam muitas vezes em mera cópia ou paráfrase. O estudante não consegue identificar palavras-chave ou teses no texto para, a partir delas, fazer uma síntese que sirva de base para elaborar suas próprias conclusões. Já a tomada de notas é fundamental principalmente quando apenas ouvimos e não temos o texto escrito. Se assistimos a um filme ou a uma palestra em LE, se conversamos com um nativo ou ouvimos uma música, é importante anotar as palavras desconhecidas, os conceitos e as expressões ou, até mesmo, registrar algumas observações. Porém, essas anotações só serão úteis se forem ativadas, isto é, se as utilizarmos em conversações, frases e textos. Podemos também elaborar um dicionário personalizado e, neste caso, ainda lançaríamos mão de uma outra estratégia: a classificação ou  o agrupamento.

            A inferência, por sua vez, não é suficientemente explorada. Mais comum é a dedução que, entretanto, em algumas circunstâncias acaba provocando equívocos, tais como: muitos verbos em espanhol ditongam quando conjugados no presente do indicativo – empezar: yo empiezo, querer: yo quiero, sentir: yo siento –, o aluno incauto pode deduzir que deve dizer: yo *apriendo. Para inferir, quando se trata, por exemplo, de descobrir o significado de palavras em um texto, é necessário usar os elementos do contexto, seguir as pistas dadas pelo tema, o título, as idéias desenvolvidas, correlacionar com palavras semelhantes, valer-se de conhecimentos prévios. Portanto, não é preciso  e nem mesmo aconselhável recorrer sempre ao dicionário. Na opinião de Paul Cyr (1998), a inferência é uma estratégia essencial para a aprendizagem de uma LE, pois subjacente a ela está um raciocínio complexo desenvolvido pelo aprendiz: perceber a complexidade da língua alvo mas não desanimar por causa disso, contextualizar a palavra ou informação nova, formular uma hipótese e avaliar a necessidade de comprová-la no momento, ou depois. Infelizmente, a prática nos revela que o aluno “tem medo” de formular hipóteses, sente-se inseguro e prefere consultar uma fonte “segura”: o dicionário, a gramática ou o professor.

            Quanto à transferência de conhecimentos, sabe-se que nem todos os professores e estudiosos do processo de ensino-aprendizagem de LE recomendam o seu emprego ou concordam com a sua importância. Sendo assim, deve-se ressaltar que não estamos nos referindo aqui a um ato de “transliteração”, tão comum entre os aprendizes iniciantes que um famoso curso de idiomas lançou mão do recurso para fazer publicidade: traduzir palavra por palavra, ao pé da letra, o texto em espanhol para o português e vice-versa. O que deve ser evidenciado em relação a esta estratégia é o procedimento de fazer comparações entre a língua materna e a LE e, valendo-se da competência lingüística já adquirida na aprendizagem da primeira, buscar compreender o funcionamento da língua alvo. Torna-se, portanto, uma operação elaborada de reflexão que, em lugar de reforçar o erro, pode contribuir para evitar usos inadequados tais como: yo *gusto de, *en el lunes, etc.

            O terceiro grupo de estratégias, as sócio-afetivas, não são focalizadas nos projetos desenvolvidos no CAA, pois implicam a interação com uma outra pessoa e, na maior parte dos casos, neste espaço o aluno estuda sozinho. Entretanto, nada o impede de formar um pequeno grupo para realizar as atividades conjuntamente, já que há uma saleta reservada para este fim.

            Para concluir, parece importante tecer alguns comentários com base nas reflexões que os professores orientadores e os monitores temos feito no CAA a partir das leituras e pesquisas, da preparação de materiais e da realização dos mini-cursos.

            Verificamos que os guias didáticos e s livros voltados para a formação do professor de LE focalizam as estratégias de ensino, mas pouca ou nenhuma atenção dão às estratégias de aprendizagem. Isso significa que, apesar de todas as discussões dos últimos anos sobre o aluno ser o centro do processo de ensino-aprendizagem, o papel do professor continua tendo maior destaque.

            O CAA, concebido como um local que faculta o desenvolvimento da autonomia de aprendizagem, podendo ser então um excelente apoio tanto para o professor como para o aluno de LE, não chega ainda a alcançar seu objetivo porque a dinâmica da sala de aula de uma certa forma “vicia” o aluno a depender da orientação do professor.

            Deste comentário, deriva outro. A educação formal, com algumas exceções, é ainda realizada de modo convencional: está centrada na transmissão de conhecimentos, o professor sabe e o aluno, não. Um ensina e o outro aprende. Além disso, o processo de ensino-aprendizagem de forma geral ainda está pautado na memorização e no automatismo, a reflexão e o desenvolvimento do senso crítico ainda não alcançaram o status preconizado pelos enfoques metodológicos mais recentes. Esta circunstância traz conseqüências sérias para o ensino-aprendizagem de LE, já que a gramática descontextualizada continua ocupando posição de destaque em detrimento de uma perspectiva voltada para a comunicação. Por outro lado, para aprender um idioma somente as aulas não são suficientes, pois, se quer adquirir fluência e dominar as quatro habilidades, o aluno precisa estudar e praticar fora da sala de aula.

            No que diz respeito às habilidades, os projetos desenvolvidos no CAA têm dado ênfase à compreensão oral, entretanto, talvez este fato contribua para que os objetivos não sejam alcançados. Como já foi dito, o aluno tende a desvincular esta habilidade das outras o que gera um aproveitamento insuficiente do material auditivo que é disponibilizado. Sendo assim, seria necessário desenvolver atividades que buscassem integrar a compreensão e a produção oral e escrita, tomando como ponto de partida, em diferentes momentos e através de atividades diversificadas, ora uma habilidade, ora outra.

            Para finalizar, é preciso ressaltar que, segundo a nossa concepção, se o processo de ensino-aprendizagem privilegiasse a pesquisa, a análise e a comparação e estimulassem o juízo crítico, o emprego das estratégias de aprendizagem seria uma conseqüência natural e a autonomia do aluno seria um princípio e não um fim a ser alcançado.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

CYR, Paul. Les stratégies d’apprentissage. Paris: Clé International, 1998. (Capítulos 3 e 4: “Les classifications des stratégies d’apprentissage” / “Les définitions des stratégies d’apprentissage”. Tradução de Rejane J. de Q. F. Taillefer.)

 

 

 

 

 

 

 



[1][1] elzimar@uel.br