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ESTRATÉGIAS
DE APRENDIZAGEM DE COMPREENSÃO ORAL Marciane MUELLER (Universidade Estadual de Londrina)[1][1] Elzimar Goettenauer de Martins COSTA (Universidade
Estadual de Londrina) Todos
que querem tornar-se destros em alguma atividade devem buscar conhecê-la e
praticá-la com o máximo de freqüência possível. No caso de uma Língua
Estrangeira isto não é diferente e a conscientização dessa necessidade, por
si mesma, já poderá tornar-se uma estratégia cognitiva de aprendizagem. O
projeto, do qual fazemos parte: "Otimização das Estratégias de
Aprendizagem de Habilidades Orais" visa justamente conscientizar os
aprendizes de LE à respeito dos mecanismos que se utiliza quando se estuda e
se adquire conhecimento sobre o processo de aprendizagem e, para isso, tem
desenvolvido vários eventos enfocando estratégias práticas e úteis para
ajudar os alunos. Paul Cyr
(1998) define estratégias como "um conjunto de operações a serem
ativadas pelo aluno a fim de apreender ou compreender a língua alvo, de
integrá-la em sua memória a longo prazo e de reutilizá-la." Os
referidos eventos são desenvolvidos no CAA (Centro de Auto Acesso), e tem
como base as teorias de O'Mallet e Chamot (1990), que se inspiraram na
Psicologia e na Educação, e classificaram as estratégias de aprendizagem em
três categorias: Metacognitivas; Cognitivas e Socio-afetivas. O CAA é um espaço destinado ao estudo individual da
LE, Inglês, Francês e Espanhol. O usuário preenche uma ficha de inscrição e
elabora um plano de estudos com previsão de conteúdo, materiais a serem
utilizados e um cronograma, tendo a sua disposição aparelhos de som, fitas,
catálogos de textos, livros, revistas, televisão e vídeo-cassete. Tendo em
mente que a aprendizagem se realiza através de estratégias mentais e técnicas
que o aprendiz desenvolve de maneira consciente e inconsciente, e que o
acompanharão no processo de aquisição de uma determinada língua alvo, em
nosso caso, o espanhol, foram elaborados até o dia de hoje três eventos: o
primeiro de Pronúncia, o segundo
de Gramática e o terceiro, ainda
em andamento, de Vocabulário,
todos enfocando a aprendizagem através de estratégias. Trataremos de cada um
deles dando ênfase às estratégias de compreensão oral utilizadas. A
compreensão oral tem sido definida como a capacidade que temos de entender
uma mensagem transmitida através de um código de maneira satisfatória, no
caso de uma língua estrangeira este talvez seja para o aprendiz ainda
parcialmente desconhecido e é natural que busque entendê-lo. As estratégias
que abordaremos aqui poderão ajudá-lo nessa tarefa. Comprovadamente
se mostra importante a realização de
atividade de compreensão oral, pois como todos devem concordar, ouvir
por ouvir não garantirá nenhuma aprendizagem, entretanto, estratégias
adequadas poderão ser úteis para a fixação de um conteúdo estudado. Diferente
do que alguns acreditavam até bem pouco tempo o processo de compreensão oral
não se dá de maneira passiva, pois tanto o falante como o ouvinte têm um
papel ativo, ou seja, ambos se empenham em disponibilizar todo seu
conhecimento de vocabulário e de mundo, para entender ou se fazer entender em
uma situação de comunicação. O que escuta estará efetuando uma série de
processos mentais que lhe permitirá inferir para interpretar uma mensagem.
Por exemplo o vocabulário da língua materna é constituído de termos
geralmente conhecidos e internalizados, e isso nos faz compreendê-la
imediatamente, como se fôssemos direto à idéia e não houvesse a palavra entre
a pessoa que fala e o que ouve, ainda assim podem haver falhas na
comunicação, pois o léxico de nossa língua é muito amplo e não o utilizamos
todo; devido a esse e outros fatores ainda haverá momentos que diremos
"Não entendi o que você quer dizer", isso se dará quando não conseguirmos
'ligar' uma idéia com nossos conhecimentos prévios, no caso do aluno de
língua estrangeira normalmente ele se baseará em modelos de sua língua
natural, e, a partir dela construirá em sua mente novos esquemas para atingir
a compreensão da LE. Os
objetivos de se trabalhar com compreensão oral de textos gravados são para se
extrair a informação global; detalhada e/ou a seletiva. A
informação global é quando
queremos que o aprendiz compreenda a idéia principal, geral de um texto, e
para isso ele não precisará conhecer todas as palavras que ouvir, mas sim o
essencial da mensagem, sabendo responder por exemplo de que assunto trata o
texto, dar um título para ele, formulando assim hipóteses de acordo com as
inferências que realizar. Podemos citar como exemplo o texto utilizado em
nosso evento de Vocabulário. El río
de oro Para los habitantes de Sort, un pueblecito en la
comarca de Pallars (Pirineu leridano), su río Noguera Pallaresa sólo era
idóneo para pescar. Sin embargo, en poco tiempo, nacía un de los mejores
paraísos en Europa para la práctica de los deportes-aventura, los nuevos
deportes, en los cuales el individuo persigue la magia de la sensación. Entre
los deportes que se pode desarrollar en la zona, cuatro conciernen al río:
rafting, hydrospeed, kayak y puenting. El rafting el la actividad reina. Consiste en
bajar la corriente sobre una lancha neumática y deslizar sobre los rápidos.
Por razones de seguridad, la lancha debe ser muy resistente, y no deben
embargarse más de ocho personas. Para practicar el rafting es obligatorio el uso de
casco y chaleco salvavidas, y para evitar ser catapultados al exterior, los
tripulantes se sujetan con los pies a unas agarraderas llamadas “straps”. En el hydrospeed, una sola persona se tumba sobre
un flotador hidrodinámico con dos asas y se lanza rápidos abajo. Hay que
ponerse salvavidas, casco y aleta, y agarrarse fuerte. El kayak es el más tradicional de los deportes del
río, pero también uno de los más espectaculares. Exige una enorme técnica.
Fueron los esquimales los primeros en inventarlo, y los inglese, los
encargados de importarlo al Viejo Continente. Desde las antiguas piraguas de
cuero hasta hoy, el kayak ha sufrido una enorme evolución. Ya no son un medio
de transporte, sino una excusa para hacer deporte y experimentar el sabor de
la aventura. Si para alguno toda esta actividad no es
suficiente, siempre podrá tirarse desde un puente. Atado, por supuesto. El
puenting, controlado por monitores, no implica ningún peligro, pero sí una
gran emoción. Sort se ha convertido en la meca del aventurero,
del buscador de emociones, y de todo aquel que quiere escapar a la rutina
para descargar ese exceso de adrenalina acumulada. (El
Punto en Cuestión) Através
do material os alunos foram orientados a ouvirem o texto e extraírem a idéia
geral: Hay
gente que busca emociones fuertes en el deporte. Escucha la grabación para
saber más sobre las nuevas modalidades deportivas: rafting – hydrospeed –
kayak – pueting. A detalhada pode ser extraída quando
pedimos informações pormenorizadas sobre o assunto, isso exigirá mais atenção
e a repetição do ato de ouvir. Esta atividade leva a pesquisa de palavras no
dicionário, estratégia também denominada como consulta de fontes. Do texto
acima solicitamos que respondessem quatro perguntas para obterem as
informações: 1. 1.
¿Cuáles de los deportes mencionados se practica en
grupo y cuáles de forma individual? 2. 2.
¿Qué tienen en común los nuevos deportes? 3. 3.
¿Cuáles piensas que tienen más riesgos? 4. 4.
¿Qué busca la gente que practica estos deportes? A seletiva é aquela em se solicita ao
aluno buscar no texto uma informação específica utilizando perguntas ou
outras atividades, também a utilizamos da seguinte maneira: Rellena
el recuadro con palabras de la grabación:
Estas
atividades podem parecer fáceis quando temos o texto em mãos, no entanto
neste caso, foram trabalhadas apenas com a gravação em fita privilegiando
assim a compreensão oral. Para que
obtenhamos os resultados desejados em nossos eventos, se faz necessário levar
alguns fatores em consideração, principalmente na confecção do material: A escolha do texto deve ser criteriosa
levando em consideração não só nossos objetivos, mas também o nível dos
alunos entre o Básico; Intermediário ou Avançado. Como
considera Alonso Encina (1994:110), "o fato de enfrentar um texto em uma
segunda língua, sobretudo oral, pode provocar muitas reações negativas: medo,
angústia, frustração ou bloqueio mental". (tradução nossa) Seria
frustrante para qualquer aluno se um texto estiver além ou aquém de seu nível
de capacidade. Para uma
escolha adequada temos a opção entre textos autênticos e não-autênticos
dependendo de nosso objetivo. Cabe ressaltar que não há ainda uma opinião
unânime quanto à definição de texto autêntico, de nossa parte consideramos aqueles
produzidos em jornais ou revistas e que sejam modelos de situações reais, e
que não foram elaborados com a finalidade exclusiva de serem incluídos em
livros didáticos, mas que poderiam sê-lo, um exemplo é o texto incluso
"El río de oro". Uma vez
escolhido teremos que considerar três etapas fundamentais: a anterior a
audição que envolve a preparação prévia do assunto; o momento durante e o
depois, dos quais trataremos mais a frente. Deve-se estabelecer objetivos: -Dentre
os lingüísticos se pode trabalhar pronúncia, vocabulário, ortografia etc; -De
compreensão, já definidos, poderá ser global, seletivo e ou detalhado; -De
Aquisição de linguagem visando situações comunicativas. No
entanto o que todos deverão ter em comum é o fato de estarem sempre contextualizados. Para
cada um desses objetivos haverá atividades adequadas sendo que a partir da
confecção do material e orientação do professor o aluno estudará de maneira
autônoma, tendo a sua disposição fitas cassetes e aparelhos de som para
ouvi-las em nosso Centro de Auto Acesso. Também,
o aluno será orientado e incentivado para que estabeleça seus próprios
objetivos mediante a compreensão oral enquanto estiver sozinho, pois de modo
geral, os alunos "escutam só por escutar", assumindo uma atitude
passiva em relação ao material. Todo o material encontrado no CAA deve ser
utilizado com uma finalidade específica, por exemplo, podemos assistir a uma
fita de vídeo buscando investigar qual a forma de tratamento mais empregada,
ouvir uma música atentando para a forma verbal, etc. O mais
importante é que o aluno se dê conta de que a compreensão oral está
diretamente relacionada com às outras habilidades, compreensão oral e
escrita, produção oral e escrita, e talvez seja esta a maior dificuldade
encontrada para se estudar sozinho. Poderia então criar suas atividades,
ouvir e repetir; ouvir e fazer anotações; transcrever tudo ou partes do
texto, ou ainda, acompanhar com o texto escrito para aprender a ortografia
correta. Após a
realização das tarefas deverá fazer um relatório do desenvolvimento do
processo de aprendizagem que servirá para detectarmos se o material cumpriu
seu objetivo em ativar certas estratégias implícitas. Nosso
primeiro evento de Pronúncia, foi
desenvolvido considerando o fato de como é fácil perceber o som/fonema
trabalhado isoladamente, e que a dificuldade está justamente em situações
contextualizadas em que a fala natural talvez seja rápida demais para um
aprendiz. Este então foi um desafio estabelecido. Após
serem expostos a vários textos auditivos, os próprios alunos se deram conta
da necessidade de gravarem sua própria produção oral a título de avaliação
comparativa com o que haviam aprendido. E esta pode ter sido a principal
falha neste material, não termos previsto isso, ainda que nosso centro
ofereça condições e os aparelhos necessários para o fazermos, possuindo
microfones, gravadores e fitas cassetes de boa qualidade. O
segundo evento realizado, de Gramática,
teve como conteúdo selecionado os "pretérito indefinido" e o
"pretérito perfecto", tendo em vista a dificuldade que a maioria
dos alunos apresentam diante de diferentes definições imprecisas quanto ao
seu uso correto não só em atividades estruturais como em situações de
comunicação. Após
determinarmos o ponto gramatical, foram então selecionados os textos em que
estivessem contextualizados, optamos por textos não-autênticos. Para a
preparação prévia fixamos uma data para a primeira reunião de orientação e
nela levantamos questões a cerca do assunto fazendo com que os alunos
expusessem seu conhecimento da matéria, inferindo. A
estratégia principal foi levá-los a consultarem diversas referências de
livros disponibilizados em nosso centro, primeiramente aqueles com definições
insuficientes, e, em alguns casos, inexatas e mais a frente os de definições
mais precisas, junto com o material auditivo e exercícios escritos contidos
em uma apostila que receberam. No
entanto, através do relatório final apresentado, foi possível detectarmos a
falha deste material, não ter deixado completamente evidente seu objetivo de
fazer o aluno, por si mesmo, eliminar o conceito insuficiente que liga os
tempos verbais com a noção de proximidade. Já no
evento em andamento, de Vocabulário podemos
mencionar que nosso intuito inicial foi fugir das tradicionais listas de
palavras. Queríamos que o léxico aparecesse contextualizado em situações de
comunicações, não em material escrito, mas apenas auditivo. Em nosso
primeiro encontro os alunos puderam expor sua maneira habitual de estudar
vocabulário, foram informados do diferencial encontrado em nosso material e
da necessidade de freqüentar nosso Centro a fim de ouvirem as fitas e
completarem os exercícios, também foram incentivados a explorar ao máximo seu
próprio potencial e ir além do solicitado, estabelecer seus próprios
objetivos e fazer um cronograma para a realização das tarefas. Como já
mencionado as atividades auditivas foram privilegiadas e atreladas a elas a
escrita. Quando trabalhamos o evento de Gramática, falamos bastante sobre
estratégias, neste quase nada foi dito a este respeito, no entanto foram
orientados a pensar em como as estavam utilizando, pois todos nós fazemos uso
delas mesmo que de forma inconsciente. Paul Cyr
(1998), definiu bem este tipo de estratégia ditas como indiretas: "as
estratégias metacognitivas consistem, essencialmente, em refletir sobre seu
processo de aprendizagem, em compreender as condições que a favorecem, em
organizar ou em planejar suas atividades para realizar aprendizagens, em auto
avaliar-se e auto corrigir-se". Em nosso
material do segundo evento citado, textos abriam as unidades enquanto que
neste terceiro isso nunca acontece, o aluno então deverá centrar sua atenção
na compreensão auditiva enfocando a atenção seletiva para a realização das
atividades. A
primeira coisa que fizemos para preparar o material foi selecionar os temas
das situações comunicativas, os quais foram: Ø
Ø Expressar
gostos e preferências; Ø
Ø Como
aceitar e recusar algo; Ø
Ø Expressar
opiniões. Determinamos
a seguir as palavras comuns ao cotidiano de quatro campos semânticos: Ø
Ø Alimentos; Ø
Ø Esportes; Ø
Ø Lazer; Ø
Ø Vestuário. Claro
que para utilizarmos corretamente estas funções se faz necessário o suporte
da gramática, em nosso material esta aparecerá numa espécie de sistematização
exemplificadora, depois do aluno ter feito mais da metade das atividades, no
entanto nada o impedirá de consultá-la a qualquer momento. Nosso objetivo,
com isso, é fazer que o aluno aprenda com a prática e não com a teoria. Não
podemos oferecer ainda as conclusões desse trabalho, mas esperamos que ao
final, os alunos apresentem seus relatórios do processo de aprendizagem e que
tenham se dado conta das vantagens do uso de estratégias e da viabilidade de um
estudo auto suficiente. Estamos
aprendendo e aprimorando nossos eventos tendo já constatado que os alunos, em
geral, não estão acostumado a trabalhar com estratégias ou por conta própria,
mas que a medida que o fazem podem ser grandemente beneficiados. O ideal
seria que se realizasse um trabalho de conscientização com todos os alunos de
Língua Estrangeira a respeito dos pressupostos estabelecidos aqui.
Acreditamos que seria enriquecedor não só para o aluno como também para os
professor, que não teriam tantas explicações teóricas a dar. Embora
todos estes eventos tenham contemplado a compreensão oral, nossa intenção
futura é promover outro, específico com esta modalidade, destacando as
estratégias correspondentes. Referências
Bibliográficas C. GOMEZ, Silvia. El
Punto en Cuestión A - Intermediário.Londres: FBS, 1998. P. 12. ALONSO, Encina. ¿Cómo ser profesor/a y querer seguir siéndolo? Madrid: Edelsa,
1994. Pp. 108-128. CYR, Paul. Les stratégies d'apprentissage. Paris: Clé International, 1998. Tradução
de Rejane J. de Q. F. Taillefer. |
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