A importância da fonoaudiologia no processo de aquisição da linguagem
Júnia Carolina Sábato Filó
por Camila Madureira Victral
Camila Madureira Victral - Qual é a sua formação?
Júnia Carolina Sábato Filó - Eu me formei, em 2006, em Fonoaudiologia, na PUC-Minas, e vou iniciar, no segundo semestre de 2007, minha Especialização em Linguagem.
Você atua na área de fonoaudiologia?
Eu faço atendimento de pacientes em um consultório e participo de um projeto multidisciplinar chamado Klínica da educação, vinculado à Fundação Barenblitt, que visa ao trabalho fonoaudiológico como auxiliar para professores e alunos nas escolas.
A fonoaudiologia trabalha com que?
A fonoaudiologia é a ciência que tem como objeto de estudo a comunicação
humana, no que se refere a seu desenvolvimento, seu aperfeiçoamento, seus distúrbios
e suas diferenças, em relação aos aspectos envolvidos na função auditiva
periférica e central, na função vestibular, na função cognitiva, na
linguagem oral e escrita, na fala, na fluência, na voz, nas funções
orofaciais e na deglutição.
Qual é a relação da fonoaudiologia com a linguagem?
A linguagem é uma área de atuação fonoaudiológica, que abrange o
desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Tratamos pacientes com atraso
ou distúrbios de linguagem oral e escrita, distúrbios de fluência, trocas de
sons na fala, pacientes que adquiriram a linguagem, mas perderam por algum
motivo, como acidente vascular cerebral (AVC) ou TCE (traumatismo crâneo-encefálico).
Os processos relacionados à fonoaudiologia influenciam no surgimento e no
fortalecimento de um leitor?
A leitura e a escrita, fazendo parte do desenvolvimento da
comunicação humana, são aquisições fundamentais para o desenvolvimento de
diversas habilidades no indivíduo. Os transtornos de aprendizagem, como o
distúrbio específico de leitura, podem ser decorrentes de alterações em
componentes da linguagem oral durante a fase escolar.
É importante estimular o gosto pela leitura e pela escrita, e fazer com
que o sujeito sinta prazer e desenvoltura em expressar-se bem, sem as
travas que um distúrbio de linguagem possam lhe trazer, pois é através da
leitura que a criança desenvolve o poder da imaginação, da reflexão e
da argumentação e se torna um bom comunicador.
Partindo da experiência que você tem com seus pacientes jovens, o que dificulta a leitura de textos impressos?
Acredito que o tipo e o tamanho de letra e a ausência ou não de figuras
influenciam na leitura de textos impressos.
A audição é de relevância para o processo cognitivo?
A cognição inclui os processos de pensamento, atenção, linguagem, memória, consciência e as emoções. As conseqüências da falta de audição implicam alterações de linguagem, fala e voz, que são, em si, sistemas integrados.
Como a audição afeta o entendimento, a comunicação e a linguagem?
O deficiente auditivo possui uma privação sensorial e perceptual que
acarreta uma restrição no desenvolvimento da criança, tanto no que se refere
aos aspectos afetivos e aos sociais, como também a seus aspectos lingüísticos
(falta ou demora na aquisição de uma língua), acarretando prejuízos nos
processos de integração social, comunicação e no próprio desenvolvimento da
linguagem. O atraso de linguagem, por sua vez, pode levar a dificuldades em
determinadas áreas de cognição e aprendizagem, e em suas relações sociais
e emocionais.
O que acontece quando vocês percebem que a pessoa tem dificuldade
auditiva? Quais são os procedimentos?
A deficiência auditiva deve ser detectada o quanto antes para prevenirmos
alterações no processo de aquisição da linguagem e das habilidades
cognitivas na criança. Logo que detectado o déficit auditivo, o bebê deve
ser encaminhado a uma avaliação audiológica completa para pesquisas mais
detalhadas sobre o funcionamento da audição e para as providências imediatas
no que se refere ao tratamento fonoaudiológico e à resolução dos problemas de
escolaridade.
A prótese auditiva é adaptada e selecionada, a partir da necessidade de cada
um, seja criança ou indivíduos que perderam a audição no avançar da idade
por algum motivo. Existem também metodologias e filosofias educacionais para a educação do deficiente auditivo tais como o oralismo, a comunicação total e o bilingüismo.
Belo Horizonte, 16 de julho de 2007.