Sem título
Fábio Gabriel Martins
Aluno de Pós-graduação em Estudos
Literários na FALE/UFMG.
Procura-se uma palavra que não queira ser escrita. Uma que à nossa revelia se recuse a habitar a folha, os muros, a tela. Aquela,
que teima em ser só voz. Intrigados, os olhos que não a alcançam, ofereceram-lhe alfabetos: da direita para a esquerda, da
esquerda para a direita, no formato hieroglífico, ideogramático, ... , cifrado ou simples. Ela dá de ombros. Essa palavra procurada
não quer ser representada. Muitos poetas já a tiveram na ponta da língua, e incapazes, renderam-se a uma outra similar palavra,
camuflada no som. Mil milhões de teorias a deixam escapar todos os dias. Quem porventura a encontrar por gentileza entre em
contato com nossa produção. Gratificação: um Aurélio.
Quero escrever em islandês
Na Islândia lêm-se muitos livros.
Bjork é uma cantora islandesa que canta em inglês.
Lá existem 499 matizes de branco percebidos pelos
esquimós quando olham para a neve.
No Brasil lê-se muito pouco.
Aqui os 4999 matizes de verde pouco importam
e a música produzida tomou o lugar do livro.
Ninguém compra livros com letras de música.
Ouve-se.
Será que nossa alegria pachorrenta é conhecida dos esquimós?