O condensador de luz
Rynaldo Papoy
Rynaldo Papoy, escritor, músico, ator, diretor. Publicou Suicídio
Espiritual, poemas (1993) e O Deserto, teatro (2003). Está publicando seu
primeiro romance de ficção científica, Alpha Centauri.
O professor de física da USP Godofredo Quintella acreditava que para viajar no tempo seria preciso sair deste Universo
e caminhar num “anti-Universo” ou o “verso do Universo”, como se uma pessoa subisse num prédio pelas paredes externas.
Professor Godofredo não gostava que chamassem esse “anti-Universo” de “Universo paralelo”. Pois acreditava não haver nada ali.
Como atingir esse anti-Universo?
Por cinquenta e sete anos refletiu sobre isto. Até que numa manhã de inverno , fazendo a barba, chegou à conclusão:
- Viajando acima da velocidade da luz.
A luz viaja a 300 mil km/s porque encontra uma resistência. Essa resistência é a própria parede da existência do Universo.
Essa parede poderia ser rompida, ele acreditava, concentrando-se a luz num ponto e a fazendo explodir.
Muita gente havia teorizado e pesquisado sobre coisas semelhantes. Como Stephen Hawking.
E ele estava certo que se entrasse numa máquina destas, seria pulverizado e não veria coisa nenhuma.
Aos 98 anos, acreditando que não tinha nada a perder, construiu o seu Condensador de Luz e se sentou na frente dele.
Bastariam seis segundos de condensação.
A luz o atravessaria como um laser e seria absorvida por um dispersador que a enviaria ao espaço.
Ele apertou o botão e liberou a luz.
Sua teoria estava quase certa. Ele, de fato, saiu do Universo mas não encontrou um anti-Universo.
Encontrou uma espécie de Universo paralelo primitivo e em suspensão temporal, onde um Big Bang eterno,
formado por toda luz de todos os Universos que ali eram jogadas por seus buracos negros e se concentravam
eternamente num único ponto que se expandia, formando novos e infinitos Universos.
Nosso Universo, soube Professor Godofredo, era apenas uma centelha entre infinitas explosões
que ocorriam num lugar que nunca teve começo nem terá fim, pois ali não existia o tempo.
Professor Godofredo chorou, suspenso no vácuo. Pois havia descoberto o segredo da Existência mas não poderia contar a ninguém.