Literatura e cinema - olhares do desterro
Kênia Aulízia Herédia
Somos todos voyeurs da conquista alheia.
Silviano Santiago
Este trabalho apresenta os resultados de pesquisa realizada no último ano
vinculada ao projeto “A tela e o texto - literatura e trocas culturais no Cone
Sul”, cujo objetivo é investigar as relações entre literatura e cinema nas
obras de Silviano Santiago e Ricardo Piglia. O presente estudo destina-se à
análise do romance Uma história de família, de Silviano Santiago,1 nos aspectos referentes ao
narrador pós-moderno e ao uso da técnica da montagem cinematográfica na
construção fragmentada do referido romance procurando, também, estabelecer
ligações entre essa obra e o filme Terra estrangeira, de Walter Salles Jr. e
Daniela Thomas,2 no
tocante à questão do exílio.
O narrador pós-moderno - segundo Silviano Santiago, privado da experiência
concreta - coloca-se ao lado do leitor como espectador das ações narradas. Como
um voyeur, ele narra apenas o visto procurando chamar a atenção do leitor para
o que se desenrola à sua frente. Assim, no romance Uma história de família,
narra-se pelo outro com as palavras de outros: ver e contar constituem as
principais experiências do narrador desse romance que pode ser entendido como
uma incursão de Silviano Santiago, segundo ele próprio, no tema clássico das
relações familiares,3
presentes na literatura brasileira, principalmente em sua vertente moderna.
No entanto, se a prosa modernista assume um caráter eminentemente memorialista,
no que diz respeito à valorização da “história do clã senhorial”,4 nas palavras de Silviano Santiago,
a sua prosa é principalmente autobiográfica, privilegiando a história de um
indivíduo e das relações estabelecidas entre ele e sua família, como um modo de
se “dar voz a uma subjetividade”.5
Dessa forma, em Uma história de família,
temos um narrador moribundo que busca o sentido de suas relações familiares,
através da reconstituição da memória de seu tio Mário que, sendo louco, é
motivo de vergonha de uma família de imigrantes italianos radicados no interior
de Minas Gerais.
Para isso, o narrador projeta, imaginariamente, na parede de seu quarto,
fragmentos das lembranças de Mário. Como se fosse uma representação
cinematográfica, a recordação do rosto alegre e manso do tio transforma-se, na
imaginação de quem narra, em um retrato 3x4 ampliado. Sobre isso, afirma o
narrador: “Minha primeira lembrança sua, tio Mário, foi seu rosto sorridente
arrastando os meus olhos para a esquerda para que visse somente a sua figura
enquadrada pelo caixote verde da janela lateral”.6 Também aqui a fala do narrador
associa literatura e cinema, à medida que sua recordação do tio situa-o como
uma figura emoldurada pela janela, remetendo, assim, à prática do enquadramento
efetivada pelo diretor.
No capítulo 4 do romance, a associação entre cinema e literatura é estabelecida
através do uso da montagem, tal como a entenderam os cineastas russos Pudovkin
e Kulechov, a partir de famosa experiência que consistia em inserir um mesmo
fotograma em diferentes contextos: “O rosto de um homem precedido e seguido do
rosto de Cristo demonstra piedade. O mesmo rosto precedido e seguido do corpo
de uma mulher nua demonstra lascívia”.7 A
concepção de Pudovkin, de que a montagem seja um processo construtivo “em que o
cineasta trabalha com fragmentos de celulóides, e não diretamente com a
realidade”,8 revela a
consciência de que o real é uma construção de linguagem, no caso, daquela usada
pelo cinema.
Essa consciência se manifesta também para o narrador pós-moderno, mergulhado em
um simulacro do mundo, constituído antes de imagens que de matéria concreta. A
tal espetáculo ele assiste como espectador,9 relatando as ações alheias. O narrador de Uma
história de família é um doente, com todos os seus deslocamentos tolhidos,
exceto o do olhar, movimento privilegiado em uma sociedade que se guia pela
imagem.
Nessa sociedade, tomada pelos efeitos imagéticos, o uso deliberado de formas
anacrônicas da escrita surge como um modo de se recuperar a memória de uma tradição,
já que o mundo contemporâneo ainda se pauta fundamentalmente pela busca do
novo, embora já exista um movimento de releitura da tradição. A idéia de
anacronismo textual aparece, no romance, através de uma carta - forma pouco
utilizada no mundo audiovisual da atualidade - através da qual o narrador tem
acesso às palavras e experiências alheias, o que confere um aspecto polifônico
ao texto:
A mulher do seu Onofre repete palavras que lhe foram ditas à noite pelo marido.
O Dr. Marcelo repete as palavras que lhe foram ditas pela sua paciente no leito
de morte. Eu repito as palavras que o Dr. Marcelo me escreve na carta. O
legítimo proprietário da palavra criminosa é o seu Onofre.10
O amante de sua avó tinha sido o executor de um atentado frustado, planejado
por ela, contra a vida do próprio filho. Aqui o narrador nos faz conhecer sua
condição de espectador: a narrativa não é mais retirada da matéria vivida e sim
daquela lida e vista, que aproxima o leitor do relato através de uma
justaposição de olhares. Esse jogo de olhares nos faz lembrar a simulação
inerente à técnica cinematográfica: o que vemos na tela é uma ilusão de
movimento, provocada pela sucessão ininterrupta de vinte e quatro fotogramas
por segundo, à qual se soma a montagem, que permite o recorte e a colagem,
oferecendo ao espectador, a cada momento, diferentes pontos de vista.11
Além disso, o trecho acima citado também remete ao simulacro, cópia da cópia da
cópia, tal como ocorre com o vestido usado pela mãe de Mário no enterro do
marido, o qual permanece guardado em uma caixa, enquanto ela utiliza várias
cópias do mesmo no cotidiano. A narrativa é uma cópia em diferença, em que a
repetição dos relatos acarreta acréscimos de novos sentidos. Isso fica claro no
capítulo 18, no qual Dr. Marcelo faz uma crítica à literatura regionalista que
se mostra atenta apenas ao visível e ao falado. Sobre isso, afirma o médico:
“As lacunas do falado e do vivido, eis o essencial”.12 Aqui podemos dizer que o escritor
Silviano Santiago chama a atenção para o caráter suplementar de sua prática
intertextual relativamente ao discurso de Carlos Drummond de Andrade sobre o
clã familiar. Em Silviano Santiago, contudo, encontramos uma radicalização do
olhar estrábico que contempla, em desvio, a cena de família: “Continuo a
leitura da carta com um olho só, enquanto o outro passeia pelo pensamento”.13
A intersemiose com o texto fílmico, através do uso da técnica da montagem na
construção da narrativa, instaura a possibilidade de recuperação da memória à
medida que permite recortar o passado, a tradição, em função do presente, de
uma nova perspectiva. Desse modo, em Uma história de família, o filme familiar
é recortado e remontado em função de uma história recalcada pela intolerância.
Isso se manifesta também no hipertexto composto em diálogo com a obra de Arthur
Bispo do Rosário. Na capa do livro, o detalhe de uma composição do artista - na
qual são dispostos diversos objetos de uso cotidiano como abridor de latas,
talheres e garrafas de café sobre um suporte de madeira - traduz, segundo
Frederico Morais, “uma tentativa de reconstrução do universo”.14 No texto de Silviano Santiago, os
fragmentos de uma vida também são reordenados resgatando-se a história daquele
que é considerado contrário à razão, ex-cêntrico, louco, questionando-se,
assim, os estigmas da doença que determinam uma existência marginal na família
e na sociedade. Decorre disso a epígrafe da obra, retirada de uma fala de
Bispo: “Cada louco é guiado por um cadáver”. À beira da morte, o narrador busca
um diálogo com o tio já morto, dispondo-se a contar a história desse diálogo
como um narrador medieval: fechado o ciclo da vida, faz-se necessário narrá-la
para que ela seja perpetuada, na verdade, recuperada como história.
Desse modo, se atentarmos para a posição ocupada por quem narra, percebemos que
todos estão, de alguma forma, insulados: tio Mário era louco e está morto, a
mulher de Onofre, como o narrador, é uma doente terminal e o Dr. Marcelo é um
velho médico aposentado. Eles representam a diferença, na verdade, o avesso da
harmonia, da perfeição e da saúde almejadadas pela mãe de Mário e pela
sociedade, sendo por isso exilados do convívio familiar e social.
Assim como o narrador e seu tio louco são alijados da família e da sociedade no
romance de Silviano Santiago, também as personagens de Terra estrangeira
vivenciam o exílio. Dirigido por Walter Salles Jr. e Daniela Thomas, em 1995, o
filme conta a história de jovens brasileiros degredados pelo caos econômico
promovido pelo então presidente Fernando Collor de Mello, no início dos anos
90, o qual transformou o Brasil, pela primeira vez na História, em um país de
emigrantes. Walter Salles Jr. destaca, em várias entrevistas, a necessidade de
se registrar esse momento da História do Brasil, evitando que ele caia no
esquecimento. Afirmando que “o preto-e-branco tem a faculdade de inserir
imediatamente o filme num tempo histórico determinado”,15 o diretor ressalta a importância
da imagem cinematográfica enquanto espaço de preservação da memória nacional.
Com isso, Walter Salles Jr. também procura fixar quando os brasileiros, em um
momento de inversão do eixo imigratório, tornam-se estrangeiros em Portugal,
lugar que não deveria ser-lhes totalmente estranho devido ao passado colonial
que resultou, inclusive, no uso de uma língua comum. Contudo, como em Uma
história de família, é justamente essa língua que revela as diferenças
culturais, através do sotaque e das expressões idiomáticas. No romance, a
família de imigrantes italianos procura se integrar à comunidade local recalcando
tudo que pode ser diferente, como o sotaque estrangeiro e a loucura de um de
seus membros, mantendo Mário circunscrito aos domínios da pensão da família.
Tudo isso visa a uma “certa invisibilidade”, nas palavras do próprio narrador,
a fim de se evitar o estranhamento por parte do outro. Há em Uma história de
família, nas palavras do autor, um “jogo de reflexos entre loucura e formas de
exclusão social”.16
Assim, se em Terra estrangeira vemos retratado principalmente o exílio de
brasileiros no exterior, no romance vemos o desterro de imigrantes no Brasil: a
exclusão de Mário representa tanto o exílio de sua família, estrangeira, quanto
o exílio do narrador no interior dessa mesma família.
Sendo assim, também Manuela, personagem de Terra
estrangeira, configura uma mulher exilada no Rio de Janeiro.
Enquanto imigrante basca, quando está morrendo, a personagem chama pelo pai
usando a palavra aitá recuperando, assim, a memória de sua língua materna.
Manuela morre diante da televisão, após a então ministra Zélia Cardoso anunciar
o congelamento das cadernetas de poupança colocando um fim ao sonho da
imigrante pobre de rever sua terra natal, San Sebastian.
Em Portugal, a brasileira Alex também sempre se vê na condição de estrangeira.
Segundo ela, “tanto faz o lugar. Quanto mais o tempo passa, mais eu me sinto
estrangeira... cada vez eu tenho mais consciência de que minha voz é uma ofensa
para os ouvidos deles.”17
Da mesma forma, a gíria e os trajes dos imigrantes angolanos são estranhos para
o gerente do Hotel dos Viajantes. Mesmo herdeiros de uma cultura lusófona,
brasileiros e angolanos não se reconhecem nem são reconhecidos pelos
portugueses como membros de uma mesma comunidade lingüística, ainda que
diversificada.
No Brasil, a personagem Paco Eizaguirre, aspirante a ator, vê seus planos de
vida ruírem com a morte de Manuela, sua mãe, e ao mesmo tempo encontra Igor, o
contrabandista português de diamantes e antigüidades, que lhe acena com a
possibilidade de ir a San Sebástian. Dono de um antiquário, Igor se vale de um
velho expediente do período colonial para contrabandear os diamantes: o santo
do pau-oco. É a história da colonização novamente em cena, só que sob a
perspectiva do cotidiano e da atualidade. O contrabandista português afirma que
os objetos de seu antiquário são as pequenas provas da aventura dos
descobrimentos, já que as grandes provas estariam em vias de esgotamento. Para
ele, junto com o ouro e o diamante, desapareceram também os “visonários, como
os santos barrocos, como Aleijadinho”.
O sobrenome de Paco já informa sua futura condição de estrangeiro: Eizaguirre é
pronunciado por Igor como EX-aguirre, ou seja, Paco não configura mais Aguirre,
o conquistador espanhol.18
Filhos de um país sem pai, como afirma Salles em várias entrevistas, “em que o
colonizador veio pegar tudo e foi embora”,19 Paco, Alex e seu marido Miguel serão sempre
estrangeiros e marginais em Portugal: é como transportadores das mercadorias
contrabandeadas por Igor que eles chegam a esse país. O assassinato de Miguel
promove o encontro entre Paco e Alex e sua posterior fuga para San Sebástian,
no País Basco. As personagens tornam-se, assim, duplamente exiladas, ao fugir
para um país de estrangeiros, já que os bascos formam uma comunidade fechada e
reprimida, um enclave cultural e lingüístico20 dentro da Espanha. A veemência com que os bascos
defendem seus costumes e seu idioma se deve, em grande parte, à violência
empregada contra eles durante a ditadura de Franco, que chegou a proibir o uso
da língua basca, chamada euskara, em seu próprio território. É esse local -
constituído de diferença não aceita, não assimilada e, por isso, tão
discriminado e atópico - que recebe as personagens fugitivas de Terra
estrangeira, tão exiladas como o narrador e seu tio louco, em Uma história de
família.
Em contraposição ao contrabandista Igor, temos a figura de Pedro, português de
meia idade com seus óculos a la Fernando Pessoa, único amigo de Miguel e Alex,
que acolhe as diferenças sem reservas enquanto freqüentador do bar Ritz, um
espaço de convivência multicultural no qual se misturam portugueses,
brasileiros e africanos, ao som da música pop. Como Fernando Pessoa, Pedro sabe
que Portugal é um lugar de espera e de partida e, por isso mesmo, a personagem
funciona como um porto seguro, uma espécie de pai para os brasileiros. A figura
do pai revela-se importante também em Uma história de família, quando o
narrador descreve seu progenitor como uma personagem cinematográfica do
expressionismo alemão – severo e autoritário. Percebemos, então, que o diálogo
com Mário encena o diálogo desejado com o pai morto, sendo a relação com a
figura paterna mediada pela imagem do tio. Em Terra estrangeira, além de ser
órfão de pai, Paco também perde a mãe, fatos que o levam a estabelecer laços
afetivos e solidários com aqueles que se encontram, como ele, na mesma condição
de estrangeiros.
Ambos os protagonistas procuram uma possibilidade de encontro e de saída do
exílio: o narrador de Uma história de família busca o pai, através da
recuperação da história de Mário, e Paco tenta recuperar a mãe, por meio da
viagem, a fim de que ela possa contemplar San Sebastian através de seu olhar. O
primeiro narra pelo outro e o segundo atua pelo outro. Constituem-se, assim,
experiências de segunda mão, em que tanto no filme quanto no romance as
personagens e o narrador têm seus olhares dirigidos sempre pela imagem
espectral do outro.
Roland Barthes afirma, em A câmara clara, que a fotografia configura uma
espécie de "retorno do morto", "a figuração da face imóvel e
pintada sob a qual vemos os mortos".21
Nesse sentido, o momento em que o narrador do romance contempla uma velha foto
de sua cidade natal é revelador: essa cidade, fotografada por um francês,
assinala antes a falta de elementos da infância do que sua presença. Para
preencher essas lacunas, o narrador desenvolve todo um discurso memorialístico
que extrapola o campo de visão da foto. Assim, mais uma vez, é o olhar do outro
que guia o narrador. Este observa os movimentos de seu tio e demais familiares
como uma câmara, em uma atitude ambígua de aproximação e distanciamento. Da
mesma forma, Paco decide viajar para San Sebástian após contemplar, longamente,
fotos de família e postais antigos montando com eles um quebra-cabeças desfeito
pela água que inunda o apartamento. Trata-se de um olhar tão expectante22 como a atitude das personagens de
Terra estrangeira, antes movidas pela ação do que motores dela:23 é o desejo e as ações do outro
que mobilizam o olhar e a atuação de Paco e Alex, na busca de um paraíso estrangeiro.
Assim, o exílio se manifesta em atos de exclusão que nem sempre acontecem
apenas em lugar estrangeiro. Como vimos, ele pode ocorrer dentro do próprio
país e até na própria família.
Percebemos, ao longo desse trabalho, como o cinema produzido por Walter Salles
Jr. e Daniela Thomas estabelece estreitas ligações com a literatura feita por
Silviano Santiago. Ambos trabalham a partir do olhar estrangeiro de personagens
que, excluídos da sociedade, contemplam-na como espectadores. Nessa perspectiva,
ver significa conhecer, saber e participar: é através de imagens e palavras que
se constrói uma narrativa que procura identificar o que foi esquecido e
preencher as lacunas do vivido.
Assim, o uso da montagem cinematográfica na construção de Uma história de
família surge como forma de recuperação e atualização da memória. Também a
forte presença da palavra em Terra estrangeira - diálogos que nos remetem a
obras literárias, como Fausto e Hamlet, e ao poeta Fernando Pessoa - associada
a imagens de diferentes correntes cinematográficas, como neo-realismo e road
movie, abre a possibilidade de se realizar leituras do presente que levem em
conta a tradição cultural.
Notas:
1. SANTIAGO, 1992.
2. SALLES Jr., 1995.
3. SANTIAGO, 1996.
4. SANTIAGO, 1989. p.
33.
5. Idem, 1989. p. 36.
6. SANTIAGO, 1992. p.
32.
7. Idem, 1992. p. 20.
8. OLIVEIRA, 1984. p.
567.
9. SANTIAGO, 1989. p.
39.
10. SANTIAGO, 1992. p.
97.
11. XAVIER, 1995. p.
382.
12. SANTIAGO, 1992. p.
74.
13. Idem, 1992. p. 74.
14. MORAIS, 1990. p.
17.
15. LABAKI, 1998.
16. SANTIAGO, 1999.
17. TERRA estrangeira,
1995.
18. Estamos nos
referindo ao personagem do filme Aguirre, a cólera dos deuses, sobre o
conquistador espanhol de mesmo nome. MITCHELL, 1997.
19. Aqui Walter Salles
cita a tese de Contardo Caligaris.
20. A língua basca
(euskara) é considerada um enclave lingüístico por ser sua origem desconhecida.
"Enclave" ou "encrave" é também o nome que se dá a uma
rocha, o xenólito, de composição diferente, encravada em outra, sem se misturar
a ela. Tal imagem nos parece expressiva para se pensar a relação existente
entre as culturas basca e espanhola.
21. BARTHES, 1984. p.
54.
22. PEREIRA, 1995.
23. SALLES, 1998.
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